Os pacientes da doença renal crônica que não precisam de tratamento por hemodiálise (método artificial de filtração do sangue), chamados de não-dialíticos, podem ter na atividade física moderada um método terapêutico complementar seguro. Essa foi a comprovação de um estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa de Nutrição e Fisiologia Aplicada da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, com autoria do aluno de doutorado Davi Alves de Santana e orientado pelo professor do Grupo, Hamilton Roschel.
A pesquisa surgiu de uma associação de longa data do Grupo com o pesquisador belga Jacques Poortmans. “Ele é um dos pesquisadores mais ativos na linha de fisiologia renal ligada ao exercício. A ideia do estudo surgiu da interação com o professor Poortmans e de uma parceria com o Hospital Universitário [onde os testes da pesquisa foram realizados]”, diz o professor Hamilton.
Ele explica que a atividade física, imediatamente depois de ser feita, ou seja, de maneira aguda, promove uma diminuição na atividade renal do ser humano. O exercício desvia o fluxo sanguíneo para o músculo em atividade, diminuindo a passagem do sangue pelo rim e a função renal temporariamente.
Além disso, o exercício físico é reconhecido como bom complemento terapêutico para diabetes e hipertensão. Essas enfermidades se relacionam com a doença renal crônica por comorbidade – sendo causadoras da doença renal crônica ou aparecendo como consequência da lesão renal.
O professor afirma que o estudo pretendeu responder às dúvidas quanto à segurança do exercício para a pacientes de doença renal crônica com comorbidades. “nunca se estudou se essa redução temporária da função renal também acontece em pacientes com doença renal crônica e, ainda mais, se isso causaria algum prejuízo para eles.”, esclarece Hamilton.
Assim, se decidiu estudar o efeito do exercício moderado nos diferentes estágios da doença. Separou-se um grupo de pacientes nos graus 1 e 2 (mais leves) da enfermidade e nos graus 3 e 4 (mais graves), ambos não tratados por hemodiálise, além do grupo de indivíduos saudáveis para controle.
Alguns parâmetros foram utilizados para analisar o desempenho da função renal diante do exercício. Entre eles está a Taxa de Filtração Glomerular (TFG), que, segundo o autor do estudo, é considerado o melhor critério para medir a função renal. Outro fator é a depuração de creatinina, método clínico mais utilizado, de acordo com o professor.
O principal achado da pesquisa foi comprovar que a atividade física moderada não compromete a função renal dos indivíduos doentes, independentemente do estágio da enfermidade. Isso se deve à constatação de que nem a taxa de filtração glomerular nem a depuração de creatinina diminuíram, após o exercício ou durante a sua recuperação, independente do estágio da doença. Além disso observou-se um padrão similar nos parâmetros citados nos indivíduos e enfermos. Já em comparação ao sujeito saudável, os doentes não apresentaram respostas diferentes diante do exercício. Portanto, o estudo permite compreender que o exercício dessa intensidade é seguro para complementar o tratamento de pacientes não-dialíticos de doença renal crônica.
O professor explica como as conclusões do estudo podem ter aplicações no tratamento de pacientes com essa doença: “Isso requer uma maior familiaridade do nefrologista com o exercício como ferramenta terapêutica das comorbidades. Ao perceber isso [que a prática é segura], ele recomenda a atividade física como complemento da terapia e o paciente poderá procurar um profissional de educação física para realizar o seu exercício.”
O artigo tem o título de Acute exercise does not impair renal funcional in nondialysis chronic kidney disease patients regardless of disease stage (Exercício agudo não impede função renal em pacientes não dialíticos da doença renal crônica, independente do estágio da doença). O estudo recebeu destaque da revista norte-americana American Physiological Society (Sociedade Americana de Fisiologia) como o principal artigo sobre fisiologia do mês de julho de 2017. “Nunca tinha se investigado dessa forma, desde os estágios mais leves aos mais pesados da doença. O ponto de destaque para a comunidade científica foi a novidade da verificação da segurança em função do estágio da doença.”, afirma Hamilton.
Voluntários para pesquisa
Outra pesquisa orientada por Hamilton Roschel, sob a responsabilidade do doutorando Manoel Lixandrão, está em período de recrutamento de voluntários. Podem participar homens ou mulheres com mais de 60 anos no estudo que pretende compreender se há maior ganho da massa muscular ou de força em idosos de acordo com a quantidade de exercício.
Os voluntários passarão por exercícios supervisionados com pesos e receberão avaliação nutricional, além do aumento da força e tamanho muscular. As atividades serão realizadas duas vezes por semana na sala de musculação da EEFE-USP, localizada na Avenida Professor Mello Moraes, 65, bloco D, 3º andar, na Cidade Universitária.
Os interessados devem entrar em contato pelos telefones (19) 98111-815 e (11) 3091-8796 ou pelo e-mail exercicioidosos@gmail.com
Faça um comentário