O desenvolvimento das capacidades auditivas é influenciado pelos estímulos sonoros aos quais somos expostos. No caso de crianças com pais surdos, esses estímulos são dados de maneira diferente e em menor frequência. Como as informações sonoras são muito importantes para o desenvolvimento do sistema auditivo dos indivíduos, a dissertação de mestrado de Thaís Regina Monteiro estudou e analisou as habilidades auditivas de CODAs (Children of Deaf Adults), em comparação com crianças filhas de pais ouvintes.
No estudo foram coletados dados das experiências realizadas com 60 crianças, de 5 a 10 anos, separadas em dois grupos semelhantes quanto a idade e sexo, sendo um com 30 CODAs e outro com 30 crianças filhas de pais ouvintes. Os grupos foram submetidos a uma série de testes: Pediatric Speech Intelligibility, em português, Dicótico de Dígitos, Padrão de Frequência, Gaps-In-Noise e também testes de Memória para Sons Instrumentais e Verbais. Os resultados comprovaram o já esperado pela pesquisadora “A hipótese era de que essas crianças, filhas de surdos, apresentassem baixo desempenho em testes comportamentais do processamento auditivos comparadas com as crianças filhas de ouvintes, indicando um funcionamento atípico do sistema auditivo em crianças que receberam poucos estímulos de sons linguísticos orais na primeira infância.” As diferenças de desempenho entre os grupos eram maiores nas crianças com menores idades.
O estudo realizado por Thaís inova ao levar em conta a exposição das crianças a estímulos verbais, ou seja, não foram realizados testes que analisavam informações auditivas provindas de estímulos ambientais, como ocorre na maioria dos estudos já registrados na literatura da área. Dessa forma, os resultados mostram que os estímulos linguísticos orais, especificamente, possuem uma significativa relevância no desenvolvimento funcional do sistema auditivo.
A pesquisa possui grande importância social pois aponta para um problema que até então não havia sido tão explorado: Das crianças filhas de surdos, constatou-se, por relato dos pais, que a maioria apresentou aquisição tardia da linguagem oral, além de dificuldades com leitura e escrita. Dentre todos os participantes, nenhum havia sido encaminhado para uma avaliação de processamento auditivo, o que é o reflexo de uma falha no processo educacional dessas crianças. “No meu entendimento, a aquisição da língua de sinais por essas crianças é algo fundamental, pois é ela que irá proporcionar aos CODAs uma comunicação efetiva com seus pais. Contudo, de acordo com os resultados obtidos nesse estudo, a exposição à língua oral desde o início da infância dessas crianças também mostra-se pertinente para, entre outros fatores, favorecer o desenvolvimento de suas habilidades auditivas”. Thaís afirma que “essas ações [encaminhar as crianças para processamentos auditivos] poderão evitar ou minimizar prejuízos educacionais futuros, assim como criar condições para que essas crianças se desenvolvam em todas as suas potencialidades.” A exemplo disso, a pesquisadora mencionou um projeto elaborado pela Apasma (Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Mauá), com apoio da Prefeitura de Mauá. Ele começou a ser elaborado após apresentação parcial dos dados do estudo no Congresso de Audiologia em Vancouver, Canadá, e consiste na contratação de psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos para oferecer um serviço pioneiro, como afirma Thaís, aos filhos de surdos que frequentam a Apasma.
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