Indivíduos soropositivos têm risco aumentado para câncer e menor sobrevida

Os pacientes com aids se mostram mais sucestíveis até mesmo aos cânceres não relacionados à imunodrepessão

Foto: Reprodução

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP relacionou os dados do Registro de Câncer de Base Populacional de São Paulo e os casos de aids cadastrados pela Prefeitura, o que permitiu concluir que os pacientes aidéticos têm uma maior suscetibilidade a desenvolver os mais variados cânceres. Além disso, eles apresentam uma taxa de sobrevida muito menor.

A orientadora da tese de doutorado, Maria do Rosário Latorre, explica que os pacientes soropositivos já têm cânceres característicos da aids, como o Linfoma de Hodgkin, que são sinais da imunodepressão. Mas o relacionamento dos bancos de dados permitiu aferir que há um risco aumentado até para os cânceres não-definidores.

“A gente viu que, sim, eles têm um risco maior de ter câncer quando comparados à população geral. Além do paciente estar imunodeprimido, o HIV pode estar associado a outros vírus por uma série de comportamentos”, informa Rosário. “O câncer de amídala, orofaringe, ânus, pênis, vulva e vagina, por exemplo, estão ligados ao HPV, que também é um vírus contraído em relação sexual.”

Risco para cânceres não definidores de aids relacionados a vírus. São Paulo, 1997-2012. Foto: Luana Fiengo Tanaka

Uma segunda análise dos dados trouxe uma boa notícia: há uma tendência de diminuição dos diversos tipos de câncer, na população com ou sem aids, masculina e feminina. Com a exceção do câncer de pulmão na população masculina soropositiva e do câncer de ânus como um todo.

O tabagismo é uma questão preocupante nos homens com aids. Foto: Reprodução

“Aqui é tabagismo, aqui é comportamento. Os próprios médicos confirmaram, ‘Eles fumam mesmo, não adianta falar’”, conta Rosário. “Já o câncer de ânus está aumentando na população em geral, pela associação ao HPV, por isso, é tão importante a vacinação também dos meninos. Independente da orientação sexual, as práticas hetero e homossexuais são as mesmas: existe sexo oral e existe sexo anal.”

Além da maior exposição, os pacientes com aids possuem uma sobrevida muito menor, ou seja, costumam ter um tempo de vida muito curto a partir do diagnóstico. Como não há protocolos específicos para o paciente e o seu sistema já se mostra imunodeprimido, ele não pode passar por uma quimioterapia de mesma intensidade de um paciente soronegativo.

“Os próprios oncologistas falam ‘A gente vai tateando, vendo o que dá para fazer, mas que eles morrem mais, morrem.’ Isso com qualquer tipo de câncer. Você vê o câncer de estômago, que na população geral tem uma sobrevida de 50% no quinto ano, na população com aids, já no primeiro ano chega a 25%. Ou seja, o paciente não sobrevive 12 meses”, ressalta a pesquisadora.

Diferença entre a sobrevida para todos os cânceres. São Paulo, 1997-2009. Foto: Luana Fiengo Tanaka

Isso no município de São Paulo, onde o acesso à saúde é muito melhor que no restante do país. O programa de Aids implementado aqui é considerado modelo no mundo. Então, o diagnóstico de câncer do paciente soropositivo foi feito rápido e ele teve o melhor tratamento possível dentro da rede pública.

“Aqui no município, até no estado de São Paulo, esse diagnóstico foi precoce. Então, esta sobrevida que estou te mostrando é o melhor que poderia ter”, assinala Rosário. “Tenho certeza que esse paciente diagnosticado aqui, foi encaminhado imediatamente para o serviço específico para câncer e atendido o mais rápido que poderia, até antes do indivíduo sem aids.”

A comparação com estudos semelhantes nos Estados Unidos e na Itália reforçam que é uma questão da doença, não das características demográficas, sociais e econômicas. Resultados tão similares em amostras tão distintas garantem que o problema é a aids.

“É importante que as pessoas saibam que é necessário se proteger. Que existem impactos para a vida delas que nem imaginam. A prevenção é tão mais barata e o Brasil, nesse ponto, é um país privilegiado, que disponibiliza o teste rápido e o preservativo em qualquer lugar, de graça”, coloca a pesquisadora.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*