No ensino básico, parece haver uma dificuldade especial que ronda a matemática e que a transforma em um grande monstro de sete cabeças para a maioria dos estudantes. No entanto, para o pesquisador Flávio Coelho, do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME), essa dificuldade aparece principalmente por conta da maneira como a disciplina é ensinada, isto é, de forma apenas técnica. A propósito, é perfeitamente natural que dificuldades apareçam, especialmente em alguns momentos chave do ensino da disciplina, como a passagem da álgebra aritmética para a álgebra abstrata. E é justamente neste sentido que vai a proposta de Flávio com a pesquisa História do pensamento algébrico e seus desdobramentos didáticos, desenvolvida a partir do programa Ano Sabático do Instituto de Estudos Avançados, que busca desmistificar esta passagem e auxiliar, por meio da contextualização histórica, o ensino da álgebra abstrata nas escolas em nível fundamental e médio.
De acordo com Flávio, diversos fatores foram decisivos nesta transição do pensamento algébrico e a aceitação destes demorou, historicamente, muito tempo. A incorporação dos números negativos e do zero são exemplos disso. Muitos pressupostos que se tem como certo na álgebra aritmética, passam a não ser mais perfeitamente aplicáveis na abstrata, e estas mudanças podem gerar certa confusão.
A primeira proposta do pesquisador é escrever um livro sobre a história da álgebra que elucide esta transição. A segunda, seria estudar novas estratégias de ensino, que consistiria na aplicação destes conhecimentos históricos dentro das salas de aula. Não se trata, no entanto, de apenas situar o pensamento algébrico historicamente, como pontua o pesquisador, mas também de utilizar os conhecimentos obtidos por meio deste panorama histórico para buscar a melhor maneira de conduzir o aprendizado: “é entender quais mecanismos foram importantes e necessários nesse desenvolvimento histórico, para que a gente tente auxiliar no desenvolvimento do pensamento abstrato dos alunos”. De acordo com ele, é importante buscar novas metodologias e atividades, já que no ensino da álgebra tudo acaba ficando muito técnico e os estudantes não compreendem o significado por trás de todas as operações matemáticas. “É isso que a gente quer resgatar um pouco, o significado da álgebra. A técnica ajuda, mas é apenas uma ferramenta”.
A pesquisa é fortemente interdisciplinar e busca unir, basicamente, três áreas: a matemática, a história e a educação. A contextualização histórica seria o elo que permitiria a aplicabilidade da matemática com mais sucesso no ensino. Embora seja uma das metas da pesquisa, essa ideia de aplicação ainda está apenas no âmbito acadêmico: “futuramente vamos pensar em alguma maneira de colocar em prática para ver se funciona realmente”, afirma Flávio. Essa vertente da pesquisa também está contando com o auxílio da professora Marcia Aguiar, da Universidade Federal do ABC (UFABC), que tem formação em matemática e mestrado e doutorado pela USP na área da educação. As propostas a curto e médio prazo para a pesquisa são, respectivamente, a elaboração de um artigo, que deve ser publicado pela revista do IEA ainda este semestre, e a escrita do livro sobre a história da álgebra.
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