Para pesquisador da USP, política externa do governo Lula ainda é exemplo para a diplomacia brasileira

Ex-presidente Lula em encontros diplomáticos internacionais da direita para a esquerda com Vladimir Putin (Rússia), Hugo Cháves (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), José Eduardo dos Santos (Angola), Mujica (Uruguai) e Obama (Estados Unidos)

Durante os oito anos do governo Lula (2003-2010), a política externa, apesar, de ter alguns pontos de continuidade em relação aos governos anteriores, foi marcada principalmente pela  adoção de uma nova postura para as relações internacionais diplomáticas brasileiras.  Em tese de doutorado, o pesquisador Kjeld Aagaard Jakobsen analisa os pontos de continuidade, mudanças e rupturas dessa política externa brasileira.

Para o pesquisador, o governo Lula foi capaz de passar uma nova imagem do país no cenário internacional que os governos anteriores não conseguiram transmitir. Essa redemocratização da política externa está muito vinculada a uma postura e interesse do ex-presidente pelas políticas sociais, pelo enfrentamento da pobreza e pela luta por igualdade entre as nações. Lula tornou-se uma voz em fóruns internacionais da ONU e da OMS no combate contra o protecionismo das economias hegemônicas.

“Os resultados alcançados se devem a uma aliança positiva e construtiva entre o Partido dos Trabalhadores, representado no governo pelo presidente Lula e seu assessor Especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia”. Segundo Kjeld a nomeação de um assessor desvinculado do Itamaraty foi essencial para criar uma sinergia ativa de visões comuns dentro do governo, na medida que se distancia da postura elitista do Itamaraty, assim como sua inflexibilidade e tradição monarquista.

Desse modo, a política externa pôde concentrar-se na intensificação das relações Sul- Sul, adotando um posicionamento “soberanista”, ou seja, não priorizando unicamente relações com países hegemônicos e industrializados, conforme explica o pesquisador. Além de uma presença ativa na Unasul, as relações com o Mercosul também foram fortalecidas.

Infográfico mostra intenso fluxo de viagens internacionais do governo Lula, o que contabiliza 470 dias passados no exterior cumprindo agenda internacional.

Essa nova imagem do Brasil  no exterior também envolve um custo para o governo, mas para o pesquisador esse é superado com o aumento das relações econômicas com as outras nações, atraindo novos parceiros comerciais, alavancando as exportações brasileiras e ampliando a abertura de mercados para investimentos de multinacionais como a Petrobras, Vale, diversas empreiteiras, entre outras, além de formarem parcerias

políticas com o governo brasileiro em várias causas internacionais, como as reformas das Organizações Internacionais e a conformação de coalizões, como o G–20 comercial.

Quando questionado sobre a política externa dos governos pós- Lula, Kjeld afirma que o curto governo Dilma herdou grande parte das relações internacionais de seu antecessor, mas que não havia um esforço ativo por parte da presidente em intensificar ainda mais esses vínculos. Já em relação ao governo de Temer, o pesquisador especula uma política de ruptura e enfraquecimento das relações., visto a troca e a nomeações do ministro de relações exteriores do governo Temer.

O pesquisador ressalta, no entanto, que o governo Lula, nem os outros que o sucederam conseguiram criar uma política de maior integração com a sociedade para criar janelas de diálogos com diferentes grupos sociais sobre os rumos da política externa brasileira.

 

 

 

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