O músico carioca Ivan Lins oficializou, através do evento Lembra de Mim – Perspectivas sobre a Construção de uma Memória a Partir do Acervo Pessoal do Músico Ivan Lins, realizado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) no último mês de abril, a doação de seu arquivo pessoal ao IEB. Foi através da pesquisadora Thaís Nicodemo, que trabalhava o projeto do álbum biográfico do cantor, que ele decidiu efetivar essa doação, ainda em vida, à Universidade de São Paulo. A peculiaridade de seu acervo, no entanto, não se resume ao fato do músico, como ele mesmo afirma, poder “curtir essa coisa de doar e depois ver o resultado”, ele também possui inúmeras nuances e características que não só contam sobre a música de Ivan como exprimem sua própria personalidade.
“Tenho muito da minha infância dentro de mim, essa que é a grande verdade”, revelou Ivan Lins quando questionado sobre o conteúdo de seu acervo. Além disso contou que aprendeu com seu avô a guardar tudo o que possuía, a não se desfazer de nada, até dos pequenos objetos, aqueles que, para muitos, podem parecer inúteis. “Guardava minhas besteiras. Era um hábito meu guardar minhas manias”. Ivan já acreditava na importância de cada minúcia, seja pessoal ou vinculado à sua carreira, que acumulava: ao mesmo tempo que pensava que uma pequena caixinha poderia servir como um porta-moedas futuramente, entendia que suas composições, mesmo que inacabadas, poderiam servir como material para algum estudante de música.
Nesse sentido, o cantor afirmou não ter tido problemas em se desfazer de todos os seus acúmulos. “Não estou me desfazendo, só vou saber onde é que está guardado. Acho que o apego existe no sentido em que eu só estava guardando num lugar onde não tinha condições nem recursos para cuidar bem disso, mas o IEB os tem”. Antes de chegar ao Instituto de Estudos Brasileiros, Ivan Lins guardava todos os seus “hábitos” em sua própria casa. Foi a pesquisadora Thaís Nicodemo que o aconselhou a doá-lo. “Ele me propôs ficar com o material e entregar uma cópia digitalizada a ele, e eu pensei que seria mais útil se outras pessoas tivessem acesso a isso como eu tive para fazer minha pesquisa já que se trata de um bem de interesse público”, conta a pesquisadora.
Conforme afirma a supervisora técnica do serviço de arquivo do IEB, Elisabete Ribas, há uma estimativa de que o acervo contenha “2 mil documentos entre cadernos, fotos, cds, dvds, prêmios e Lps”. “Tem itens mais ligados à trajetória profissional do Ivan, muitos arquivos de vídeo, tem até uma fita de vídeo de família feita pelo pai dele, tem todos os discos dele em onplay, tem fotos, muitas fotos, fotos profissionais, fotos pessoais, muitos escritos, cartas”, detalha Thaís. “Tem até uniforme de colégio dele guardado, tem os documentos da maternidade de quando ele nasceu, tem todas essas coisas lá e outras, obviamente, ligadas à carreira de músico dele”, completa. Há também recortes de revistas como Ilustrada, O Estado de S. Paulo, estudos de músicas do cantor no período da Ditadura Militar, feito pela própria Thaís, dentre outras coisas.
Ivan, contudo, destaca uma outra parte do acervo que ainda não chegou ao IEB que, segundo Elisabete, não tem previsão para que isso ocorra devido a mudança da sede do instituto. Trata-se do arquivo sonoro do compositor que, segundo ele, é seu bem mais raro, mais precioso, entre todos os bens doados. “São gravações que vem desde 1973, 1974 até os dias de hoje, nas quais apresento meu processo de composição”, explica Ivan. Para o compositor, isso é muito interessante para os estudantes de música. Segundo o cantor, tendo contato com esse material em áudio, o pesquisador ou estudante não estaria só lidando com uma partitura mas, sim, com um processo de composição mais dinâmico, que pudesse ser ouvido. “As pessoas vão me escutar cantando e tocando, vão ouvir os acordes, como eles funcionavam, como eles mudavam, e como eu mudava tentando achar uma melodia certa.”
Por se tratar de um acervo doado em vida, o cantor continuará doando material para o Instituto. “Eu vou achar muita coisa ainda, tem coisas soltas em vários lugares. Com as pessoas sabendo que o acervo está indo para um lugar seguro, vai ter gente que vai aparecer com uma foto ou uma carta que ajudarão a compô-lo”, conta o músico. Segundo afirma, esse é um processo de autodescobrimento também, em meio a essas doações ele acaba recebendo documentos que até então não tinha conhecimento.
Para a pesquisadora Thaís Nicodemo, conhecer a personalidade também ajuda a conhecer sua música e, nesse caso, o acervo do Ivan Lins corresponderá muito bem a esse critério uma vez que compõe de inúmeros documentos pessoais e profissionais. Quem tiver o interesse de conhecê-lo, poderá agendar uma visita através do e-mail arquivoieb@usp.br.
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