A Universidade de São Paulo lidera, desde 2011, um núcleo de pesquisas voltado a um dos temas mais urgentes da atualidade: as mudanças climáticas, suas causas e efeitos. O Incline (Interdisciplinary Climate Investigation Center), cuja sede fica no IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas), busca integrar as pesquisas sobre o tema nos mais diversos campos do conhecimento, desde a meteorologia até a arquitetura ou economia, e propor soluções aos poderes públicos e à população.
“Tudo está interligado”, declara o professor Tércio Ambrizzi, coordenador do núcleo, à AUN, ao explicar os motivos da existência da interdisciplinaridade do Incline. “As mudanças climáticas envolvem diversos aspectos da vida humana, como saúde, economia e a própria sobrevivência da espécie”, ressalta.
Ultimamente, os esforços da coordenação têm sido em promover o projeto, de modo a tornar-se uma referência no campo dos planos de ação, assim como já o é no campo da pesquisa. “Hoje somos conhecidos inclusive pelo Poder Executivo nacional, pois vários órgãos do Incline estão ligados às secretarias ou ministérios, além de possuirmos grandes nomes do campo científico, que conferem credibilidade ao nosso trabalho”, explica o professor. “Ainda assim, estamos trabalhando para que o poder público procure mais o Incline, de modo que os estudos que fazemos tenha uma aplicação prática nas políticas ambientais do país e possam resultar numa melhora da qualidade de vida da população”.
O núcleo engloba 17 subprojetos de áreas diferentes, entre eles a variação do clima, o estudo na Amazônia, os efeitos da poluição, a vida nas grandes cidades, o clima do planeta há milhões de anos e a saúde pública. Estão envolvidos nos estudos 12 diferentes institutos da USP, sendo 10 dos campi da capital paulista, a Esalq, do campus de Piracicaba e a EESC, do campus de São Carlos.
Panorama do clima
Segundo o professor Tércio, as mudanças climáticas são muito visíveis, em especial o aquecimento global provocado pela emissão de gases pela atividade humana, como o gás carbônico (emitido por indústrias e automóveis, na queima de combustíveis). “Em 2015, a concentração de gás carbônico na atmosfera terrestre ultrapassou 400 partes por milhão, sendo que os picos nos últimos 800 mil anos não chegavam a 300. Além disso, desde que começaram as medições, a temperatura média do planeta subiu cerca de 0,8ºC”.
Entre as consequências dessas mudanças estão o derretimento das calotas polares e aumento do nível do mar, as alterações no fluxo hídrico e pluviométrico, a poluição das cidades, o prejuízo dos setores agrícolas e problemas de saúde, como os respiratórios.
Mesmo com todas essas evidências, alguns cientistas ainda relutam em aceitar as mudanças climáticas como consequências da ação humana. Essa é a linha ecológica que segue, por exemplo, o presidente dos EUA, Donald Trump: a ideia de que o aquecimento global é um mito para barrar o desenvolvimento. Ambrizzi afirma que “esses cientistas ‘negacionistas’ são cerca de 2% de estudiosos, que dão sua opinião baseada em achismos e não em constatações”. Embora admita que durante a história do planeta existam períodos de variação climática, com picos de calor e gás carbônico, ele ressalta que a profundidade dos dados de hoje confirmam a interferência humana num fluxo que deveria ser natural e mais leve.
Brasil
Nesse contexto de intensas mudanças climáticas, o Brasil deve ser um dos países mais impactados pelas consequências. “Por ser um país muito dependente da natureza, como, por exemplo, em relação à matriz energética ou à dependência econômica do agronegócio, o Brasil está sujeito a grandes problemas, que precisam de prevenção e solução”, afirma Ambrizzi. “Dependemos mais do clima do que as outras nações”, ressalta.
Projeções
A despeito das preocupações alarmantes, o coordenador do Incline mostra-se esperançoso quanto ao futuro climático do planeta. “Embora sempre surjam pessoas com interesses mesquinhos, a consciência da população e dos governantes vem mudando, o que me dá a esperança de que não alcançaremos as projeções máximas hoje estipuladas. As mudanças são inevitáveis, porém, se conseguirmos freá-las, será possível que a humanidade se adapte a elas”, projeta o professor. “Os objetivos do Incline surgem nesse sentido: o de proporcionar uma visão mais clara e propor planos de ação para esse freio e adaptação”.
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