Por Diogo Magri – dmagri07@gmail.com
Ter uma avaliação justa, baseada em critérios honestos e bem explicados, é desejo de qualquer aluno. Para Michele Carbinatto, professora da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte da USP), a realidade não é diferente. Motivada pela vontade de melhorar seu próprio processo avaliativo, ela iniciou uma pesquisa que estuda os métodos utilizados pelos melhores docentes do ensino superior em sua área, a ginástica artística. A iniciativa conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A discussão e base teórica da pesquisa são o ‘como avaliar: “Atendendo os critérios da instituição, que é dar uma nota, sendo coerente com a minha metodologia e com aquilo que acredito que é a educação”, explica Michele. Para ela, “a avaliação não é produto; é processo”, logo, todos os instrumentos utilizados precisam ser estudados.
A professora queria se basear nos docentes considerados experts nas referidas modalidades. Por isso, utilizou como critério aqueles com produção atualizada na área, que fossem reconhecidos no meio e que atuassem tanto na graduação quanto na pós graduação. “São oito”, completa ela. Desses, Michele analisou os métodos avaliativos, considerando-os efetivos ou não segundo os critérios dos teóricos atuais, além de usá-los para aprimorar seu próprio ensino.
“É também um aprendizado, porque consegui absorver práticas de outros professores que podem ser interessantes para mim.” A partir da pesquisa, ela também tem como objetivo tornar seus alunos, que serão profissionais de educação física e esporte, melhores. “Indiretamente, estou lidando com o futuro deles dentro desse estudo.”
Concluída no início de dezembro de 2016, a pesquisa já trouxe resultados. “Perto do que considero ser um método de avaliação efetiva, os resultados foram satisfatórios”, afirma Michele. Ela releva, no entanto, que, por conta do tempo disponível ― normalmente, 4 meses por semestre ― não é possível chegar no ideal.
A pesquisadora constatou diferenças significativas entre os contextos das universidades em que os docentes atuam. Quando nos grandes centros, os alunos costumam se ocupar com diversas atividades (sobretudo os estágios não-obrigatórios) e os percursos para visitação de locais de treinos, por exemplo, demandam logística e esforço que sobressaem à disciplina. Por sua vez, em centros menores, as avaliações com diário de campo e observações de aulas de ginástica em diferentes locais foram mais recorrentes.
O maior ponto positivo, para Michele, foi o padrão encontrado na forma como a nota é decidida pelo docente. “Na maioria das vezes, a pontuação final era dividida em 3 avaliações, que aconteciam ao longo do semestre, com exercícios bem variados entre trabalhos individuais e em grupo”, afirma. Inclusive, em todas elas, notou-se critérios de análise e o retorno ao aluno.” Na visão da pesquisadora, esse modo de dividir os trabalhos é fundamental para o desenvolvimento profissional do estudante.
As avaliações mais comuns foram, respectivamente, a avaliação teórica com situações comuns na docência da ginástica (como explicar aos pais de um aluno sobre o crescimento e desenvolvimento e a prática da ginástica), a avaliação prática em que a criação de exercícios educativos ou segurança de elementos de ginástica deveriam ser demonstrados e a organização de festivais ou campeonatos de ginástica, nos quais o aluno se insere no contexto formal e atua diretamente com a comunidade de prática, ou seja, os ginastas, técnicos e pais.
O destaque negativo, porém, ficou por conta da auto-avaliação. Um processo que tem sido incorporado pelos docentes, a auto-avaliação, que se resume pelo aluno atribuir uma nota a si próprio de acordo com o seu semestre, não tem sido satisfatório. Segundo Michele, ela não funciona porque nós não temos essa cultura e, consequentemente, os alunos não estão acostumados a olhar para sua atuação como estudante. “Eles acabam sendo estrategistas do ponto de vista negativo. Falta sinceridade, o que tem incomodado os docentes.”
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