Regiões com menor cobertura vegetal aumentam a probabilidade de nascimentos prematuros

Pesquisa relaciona diversos fatores ambientais, como a cobertura vegetal e o acesso a áreas verdes, ao número de nascimentos prematuros na cidade de São Paulo

O estudo evidencia a necessidade da intensificação de políticas públicas que visem aumentar a arborização urbana [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

Uma análise de dados estatísticos relacionou a quantidade de nascimentos prematuros e a cobertura do solo na cidade de São Paulo. Publicado na Revista de Saúde Pública, o artigo explora também outros fatores relacionados à prematuridade, como o estado civil e o nível de escolaridade da mãe.

A pesquisadora Tiana Carla Moreira é formada em engenharia agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e queria trabalhar com paisagismo e arborização depois da graduação. Depois, percebeu a relação entre esses temas e a saúde humana e fez doutorado na Faculdade de Medicina da USP (FM).

A prematuridade e o ambiente

Em geral, o período gestacional humano costuma durar 40 semanas, mas pode chegar a 42. São caracterizados como nascimentos prematuros (ou “pré-termo”) aqueles que ocorrem antes do fim de 37 semanas de gestação.

Quanto menor o período de gestação, maiores as chances de complicações na saúde dos bebês. É durante os 9 meses de gravidez que ocorre o desenvolvimento do organismo e, por isso, um nascimento antes do previsto pode causar prejuízos à criança.

O estudo “Efeitos da cobertura de solo e poluição do ar no risco de nascimentos prematuros” realizou um cruzamento entre os dados de 2012 do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e imagens de satélite da cidade de São Paulo. Com isso, a pesquisa teve o objetivo de encontrar relações entre casos de nascimentos pré-termo e concentrações de vegetação e de Material Particulado 2,5 (PM2,5) na cidade.

O PM2,5 é um tipo de poluente inalável composto por partículas muito finas que, segundo Tiana, é originado principalmente de veículos, e é “relacionado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e respiratórias, mas estudos mais recentes também têm mostrado sua relação com o declínio cognitivo”. 

Foram analisados mais de 166 mil nascidos. Dentre eles, 12,31%, equivalente a mais de 18 mil, eram prematuros.

Os resultados

A cobertura do solo, entre área verde e área construída, foi analisada dentro de quatro quartis (Q) — sendo as áreas categorizadas como Q1 as com menos proporção de determinada cobertura. Depois as concentrações dos quartis crescem progressivamente até o último, o Q4. 

A análise mostra que, tanto para os espaços verdes quanto para a cobertura arbórea, Q1 e Q2, aqueles de menor concentração, detêm a maior associação com nascimentos prematuros. Já para as áreas construídas, Q4, de maior concentração, é o que mais se relaciona à prematuridade.

Em relação ao PM2,5, não foi encontrada relação estatística significativa entre os níveis desse material e a taxa de prematuridade. Segundo o artigo, esse resultado é diferente do encontrado em outras pesquisas realizadas em outros países. O texto explica que, pela análise do PM2,5 ter sido realizada a partir de imagens de satélite, “é possível que diferenças de exposição individuais não tenham sido captadas”. O material complementa que “este resultado aponta um efeito independente das áreas verdes sobre os resultados do nascimento”.

Fora os fatores ambientais, foram analisadas outras potenciais interferências no período gestacional adequado. A média de idade geral para as mães era de 27,7 anos. Na análise de dados, os partos de mães com mais de 35 têm mais relação com a prematuridade.

Já com relação ao estado civil, solteiras e em união estável tinham mais chance de dar à luz bebês pré-termo que as mães casadas.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*