Uma pesquisa de revisão a partir de estudos observacionais analisou as consequências da introdução de novas tecnologias na área da saúde e como elas alteram os papéis profissionais e os serviços de saúde.
Heloise Fernandes Agreli, líder do estudo e docente do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem (EE) da USP que realiza pesquisas relacionadas à força de trabalho em saúde e interprofissionalidade, desenvolveu uma tipologia para compreender a redistribuição do trabalho nos profissionais de saúde com a chegada de uma nova tecnologia.
“O primeiro passo é entender que muitas tecnologias não são apenas introduzidas na área da saúde e mantêm os trabalhos iguais. Tecnologias como telemedicina e robôs que auxiliam em cirurgias mudam os serviços de saúde e os papéis profissionais”, explica Heloise à Agência Universitária de Notícias.
O estudo foi publicado no British Medical Journal Leader, fruto de pesquisa iniciada em pós-doutorado sob supervisão de Marina Peduzzi (EE-USP) e realizado em parceria com o Emlyon Business School, na França. Contou com a análise de publicações não só da área da saúde, mas também de administração e gestão, em uma abordagem interdisciplinar.
Mudanças após a implementação de novas tecnologias
Por meio de uma síntese dessas publicações, foi desenvolvida uma tipologia de quatro tipos de reconfiguração de papéis após a introdução de tecnologias em hospitais, serviços de saúde e consultórios médicos:
Redução da diferenciação profissional: como os profissionais precisam negociar as habilidades técnicas para dominar o uso da nova tecnologia, pode ocorrer uma aproximação das tarefas profissionais entre diferentes trabalhadores.
Clarificação de papéis: funções profissionais que antes não eram explícitas passam a ser claras. Heloise oferece o exemplo do robô Da Vinci, equipamento de última geração usado em cirurgias: o médico fica distante da pessoa operada para manipular o robô, enquanto os enfermeiros permanecem ao lado do paciente e, com isso, mostram que possuem conhecimento técnico e específico, o que não era claro antes.
Ampliação de papéis: alargamento das funções profissionais para aqueles trabalhadores com mais experiência e domínio sobre a nova tecnologia. Esse movimento pode estar acompanhado de um aumento de status profissional, embora não necessariamente esteja atrelado a maior reconhecimento ou aumento salarial.
Restrição de papéis: quando uma tecnologia substitui um funcionário e este não tem o conhecimento para operar a tecnologia, tal força de trabalho deixa de executar determinada função. Secretárias e assistentes médicas, por exemplo, podem ter suas tarefas profissionais reduzidas com a utilização de softwares de digitação automática e programas de organização.
Por sua vez, estes quatro tipos de mudanças são mediados por duas variáveis: autoridade profissional e conhecimento da tecnologia.
A etapa de negociação ocorre quando um profissional com alto grau de autoridade tem redução nesse domínio e precisa negociar com outros profissionais para aprender a manipular a tecnologia. Por outro lado, se a pessoa tem muito conhecimento sobre a tecnologia, pode haver uma escalada profissional, com o aumento da autoridade.
A partir desses apontamentos, Heloise indica que os gestores de estabelecimentos de saúde precisam se atentar a uma série de aspectos após a introdução da tecnologia. “O gestor precisa entender que tecnologia não será simplesmente incorporada, ele precisa proativamente redefinir os papéis, prestando atenção às interdependências”.
As recomendações que a pesquisadora faz são: oferecer oportunidades coletivas de aprendizagem, ajudar as pessoas a entender o benefício da tecnologia no ambiente de trabalho, repensar os recursos humanos para garantir uma incorporação bem sucedida e esperar resistência e ansiedade pela mudança.
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