
No segundo semestre de 2019, o mundo registrava o surgimento dos primeiros casos conhecidos da variante do coronavírus SARS-CoV-2 em Wuhan, na China. As primeiras notícias classificavam o vírus como uma pneumonia grave. Em 11 de março de 2020, com mais de 118 mil casos registrados em 114 países diferentes, incluindo o Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara pandemia mundial.
Apesar de não se ter uma resposta definitiva para sua origem, múltiplas investigações apontam que a cepa teria começado no mercado de Huanan, que vendia ilegalmente animais silvestres. Evidências científicas sugerem que a transmissão para humanos aconteceu por intermédio de um animal hospedeiro, que por via da seleção natural passou por mutações até se tornar um risco para humanos.
Com este e outros casos históricos como exemplo, é possível começar a pensar como seria possível impedir que situações como essa voltem a acontecer — ou, se acontecerem, de que modo o mundo pode estar melhor preparado. Uma das formas de se fazer isso é o monitoramento da fauna silvestre. Por meio dessa atividade, é possível acompanhar as dinâmicas e o equilíbrio do ecossistema. Além disso, outro benefício é conseguir monitorar doenças e patógenos, como a própria Covid-19, antes que se torne um risco para a saúde pública.
Entretanto, atualmente, essa tarefa não é totalmente segura para os cientistas e os animais estudados. Foi pensando nesses problemas que surgiu o projeto Spontaneous Wildlife Autonomous Biosampler (S.W.A.B), desenvolvido no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), e coordenado pela professora Maristela Martins de Camargo. “Nos animais, a captura pode causar alterações fisiológicas e comportamentais, além de levar à mortalidade acidental em alguns casos”, afirma Aspen Gonçalves, uma das bolsistas da pesquisa. “Para os pesquisadores, há o risco de contaminação cruzada, ferimentos e outros acidentes durante o manuseio”.
A testagem do equipamento já foi realizada em gatos da ONG Enquanto Houver Chance, para detectar as doenças FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) e FeLV (Vírus da Leucemia Felina), os resultados foram bem sucedidos. Os testes também aconteceram na Reserva Florestal do Instituto de Biociências (IB), onde houve interação de saguis, roedores silvestres e saruês com o dispositivo e, segundo as pesquisadoras, embora as amostras desse monitoramento não tenham sido testadas em laboratório, a interação dos animais demonstra sucesso na funcionalidade do aparelho.
“O S.W.A.B nos permitiria ter conhecimento dos diferentes vírus e bactérias que diversas espécies de animais silvestres carregam”, explica Melissa Fernandes, também bolsista. A pesquisadora reitera o impacto positivo do projeto para a detecção de novas ameaças. “Seria possível termos controle da disseminação de patógenos, impedindo o surgimento de doenças zoonóticas ou novos cenários de epidemias e pandemias”.
No momento, o planejamento para o futuro inclui automatização do dispositivo e estender a ideia do equipamento para outras organizações e zoológicos, pois um dos objetivos é que o S.W.A.B seja um instrumento acessível para cidadãos comuns, possibilitando a criação de um banco de amostras conectado. Além disso, o programa busca ampliar a viabilidade de monitoramento para os níveis de hormônios dos animais, como cortisol, da família dos esteroides.
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