Projeto de pesquisa une Brasil, Argentina e Uruguai a fim de transmitir conhecimento sobre comunidades tradicionais

Segundo pesquisadores, justiça socioambiental, diversidade linguística e educação formam um trio inseparável

De acordo com a Unesco, a diversidade da vida se compõe por diversidade natural, cultural e linguística [Foto: Freepik]

Meio ambiente, linguagem e educação estão mais interligados do que se imagina. É dessa interdisciplinaridade que surge o projeto de pesquisa Justiça socioambiental, diversidade linguística e Educação, composto por uma equipe de 22 pesquisadores vindos de seis universidades distintas e de três países diferentes: Brasil, Argentina e Uruguai. Além da Universidade de São Paulo (USP), participam a Universidade Federal do Pará, Universidade Federal da Bahia, Universidad de Buenos Aires, Universidad Nacional de La Plata e Universidad de la República.

O projeto se estrutura em duas frentes. Na primeira, mapeiam-se as práticas de grupos tradicionais do continente sul-americano – como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e caiçaras –, que se desenvolvem por meio de uma relação intrínseca com seus territórios e suas línguas. A partir disso, na segunda frente, os pesquisadores analisam quais e de que forma imagens e ideias sobre esses povos são construídas pela comunidade acadêmica, pelas mídias e pela literatura. Quando os dados coletados são postos lado a lado, é possível compreender as relações dialógicas, que podem ser de solidariedade ou conflito, entre as comunidades tradicionais e o restante da população, chamada de “sociedade dominante”.

“Queremos olhar para os projetos que possuem a temática dos saberes dos povos considerados tradicionais, a fim de entender como esses trabalhos acadêmicos são criados e como, eventualmente, eles reproduzem certas imagens a respeito desses povos”, afirma Thomas M. Fairchild, coordenador da pesquisa e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP (FE). Segundo o pesquisador, o coração do projeto é fazer com que a problematização acerca do funcionamento discursivo das imagens que sintetizam quem são e como vivem os indígenas, quilombolas e ribeirinhos atravesse os trabalhos que são feitos junto a esses grupos.

Após as análises e problematizações, o objetivo prático da pesquisa é elaborar propostas para a compreensão e a superação de problemas socioambientais vividos por povos tradicionais no Brasil, na Argentina e no Uruguai. De acordo com os envolvidos, essas propostas serão construídas com base no princípio da valorização das línguas e dos conhecimentos ancestrais em diálogo com os saberes e modos de vida das sociedades industriais de seu entorno.

Para planejá-las, Thomas conta que o projeto desenvolveu um curso de uma semana na Faculdade de Educação da USP, que envolveu os pesquisadores e estudantes intercambistas da universidade, a fim de mobilizar e incluir esses alunos no plano geral da discussão. As atividades consistiram em diálogos com os alunos sobre a temática, exercícios de análise – leitura e debates sobre trechos do livro A cidade das letras (Ángel Rama, 2015), por exemplo –  e localização de projetos de pesquisas individuais que podem ser abraçados pelo Justiça socioambiental, diversidade linguística e Educação.

Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), a mestranda em Educação Laine Chapada de Amorim, que pesquisa o conhecimento caiçara sobre a flora local, explica que existe um processo de retroalimentação entre a biodiversidade e a diversidade linguística. Segundo o documento nº 11 da Unesco sobre a vitalidade e desaparecimento de línguas, publicado em 2002, a diversidade da vida se compõe por diversidade natural, cultural e linguística. “Por isso a importância, para todas as ciências, de pesquisas que evidenciem as potências e resistências dessas comunidades, expressas em suas linguagens e outros aspectos culturais”, pontua a pesquisadora.

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