Guia Alimentar para a População Brasileira: um guia para todos

A implementação e valorização uma década depois

Auxílio na promoção de práticas alimentares adequadas no Brasil e no mundo. Imagem: Pixabay 

O Guia está disponível no portal do Governo Federal e pode ser acessado por todos. [Arte: Yasmin Constante]
No último ano, o Guia Alimentar para a População Brasileira completou 10 anos de apoio à saúde e auxílio na promoção de práticas alimentares adequadas no Brasil e no mundo. Desenvolvido através de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, o Nupens/USP, ligado à Faculdade de Saúde Pública da USP, está é a segunda edição do Guia a ser implementada no Brasil.

Desde 1990, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) recomenda a criação de guias alimentares. Considerado um dos pioneiros no mundo, a primeira edição do livro foi implementada no Brasil há 19 anos.

A principal diferença entre a primeira edição e a atual é como a alimentação é vista. Neste modelo, era levado em consideração, sobretudo, os nutrientes dos alimentos, com base na pirâmide alimentar, enquanto no modelo mais recente, é levado em consideração um conceito mais amplo, que valoriza o processamento dos alimentos.

A criação mais recente da obra teve início em 2011 e contou com um processo participativo – incluiu a sociedade civil, profissionais da saúde, a academia e também os gestores públicos. Nele foram incorporadas as ideias propostas pela classificação Nova, desenvolvida pelo Nupens/USP, que qualifica os alimentos segundo o seu nível de processamento.

A classificação divide os alimentos em quatro grupos: in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e ultraprocessados. Desde a sua criação, ela é vista como uma revolução no modo de se pensar alimentação e, vem sendo uma ferramenta importante de suporte para novos estudos na área.

Kamila Tiemann, pós-doutorando do Núcleo, que pesquisa o Guia Alimentar há quase 10 anos, explica que a classificação se encaixou no que as políticas previam para alimentação naquele período. Para a pesquisadora, a Nova “olha para além desse conceito baseado puramente em nutrientes, considerando também os alimentos, a cultura e a forma como a população brasileira se alimenta”.

Atualmente, são conhecidos mais de 32 desfechos clínicos causados pelo consumo de alimentos ultraprocessados. Porém, quando o conceito foi incorporado, tratava-se de uma teoria recente, segundo Kamila, a decisão de considerar a classificação Nova foi pertinente e corajosa.

Quando comparadas, as dietas compostas por alimentos processados e in natura apresentam uma diferença significativa na qualidade, especialmente em termos de conteúdo de fibras, de proteínas, de vitaminas e minerais. Os aspectos positivos estão presentes numa dieta in natura ou minimamente processada. A pesquisadora aponta que, “esses alimentos [ultraprocessados] são basicamente a combinação de substâncias extraídas de alimentos como amido, gorduras, açúcar, adicionados para fazer eles mais atrativos”.

O Guia Alimentar para a População Brasileira obteve sucesso, principalmente, em seu papel como orientador de políticas públicas. No aspecto da implementação, há diversas políticas que foram adaptadas ou criadas com base no guia. Como por exemplo, o Programa de Nacional de Alimentação Escolar, que teve a sua lei revisada para reduzir e limitar a venda e compra de alimentos ultraprocessados, além da Política Nacional da Cesta Básica, hoje, orientada pelo Guia.

Segundo a pós-doutoranda, quando instituído, ele foi divulgado institucionalmente pelo Ministério da Saúde, por vídeos, cartilhas e manuais, que eram pensados para a população em geral e também para profissionais de saúde. Por essas razões a cada ano o Guia é mais valorizado e incorporado.

Entretanto, ainda são percebidas lacunas na sua implementação na prática clínica do cuidado individualizado. Nesse sentido, recentemente, foi publicado um artigo do Núcleo intitulado como Traduzindo o Guia Alimentar Brasileiro para a prática clínica: estratégias inovadoras para profissionais de saúde, que busca promover uma maior integração do manual pelos profissionais da área da saúde, principalmente no SUS.

O artigo tem como primeira autora Vanessa Couto, doutoranda do Nupens/USP que percebeu, durante sua atuação clínica, como a incorporação da obra trazia resultados positivos. Ela aponta que, a ideia da pesquisa é criar uma sistematização de como profissionais de saúde podem pensar as suas práticas de cuidado.

Como parte de sua pesquisa, ela desenvolveu um curso de qualificação profissional chamado QualiGuia que apoia os profissionais de saúde a utilizarem os protocolos de uso do Guia. Segundo Vanessa, a estratégia do desenvolvimento da pesquisa foi a apresentação de casos, utilizados como forma de aproximar a ideia do cotidiano de profissionais da área.

“Acreditamos que devemos sempre seguir neste trabalho, considerando cada realidade e momento que vivemos para se pensar as estratégias de implementação do Guia”, enfatiza a pesquisadora.

Para Kamila, a implantação deve ser trabalhada porque a prática de profissionais da saúde e da nutrição foi formada com base em um outro paradigma de alimentação saudável. Desde o início, o Núcleo trabalha com a criação de protocolos para o uso do Guia. É através desses materiais que se torna possível que profissionais da saúde, sem domínio sobre o campo da nutrição, preparem diagnósticos alimentares e orientem as pessoas.

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