Pesquisa mapeia biodiversidade de peixes de recifes

Comunidades de peixes recifais variam ao longo do tempo em quatro ilhas oceânicas do Brasil

O Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de pequenos ilhéus rochosos pertencentes ao estado brasileiro de Pernambuco. [Imagem: Canidé Soares - Marinha do Brasil]

Uma dissertação do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar-USP) investiga a dinâmica populacional de peixes recifais e as variações em suas comunidades em quatro ilhas oceânicas brasileiras: o Arquipélago de Trindade e Martin Vaz, o Atol das Rocas, o Arquipélago São Pedro e São Paulo e o Arquipélago de Fernando de Noronha. A pesquisa de mestrado do biólogo Esteban Nogueira analisa como as populações de peixes dessas ilhas variam ao longo do tempo. “Estudo como essas comunidades estão se transformando ao longo de dez anos, testando a Teoria de Biogeografia de Ilhas”, explica Nogueira. 

Segundo o pesquisador, os peixes das ilhas oceânicas se distinguem dos das áreas costeiras devido a diferentes processos biogeográficos. Como essas ilhas nunca estiveram conectadas ao continente, suas comunidades desenvolveram-se isoladamente em resposta a fatores como vulcanismo e movimentos de placas tectônicas. “O isolamento e a história geográfica dessas ilhas levaram a processos biogeográficos distintos, resultando em uma menor riqueza de espécies e, ao mesmo tempo, em uma alta taxa de especiação e endemismo”, esclarece o pesquisador.

A especiação ocorre quando novas espécies surgem ao longo do tempo, geralmente em resposta ao isolamento geográfico. Já o endemismo se refere a espécies que só existem exclusivamente em uma determinada região. No caso das ilhas estudadas, o isolamento geográfico e as características únicas desses ecossistemas resultaram em uma fauna marinha distinta, com espécies que não são encontradas em nenhuma outra parte do mundo.

Observações iniciais

Para investigar a variação da comunidade de peixes ao longo do tempo, o projeto utiliza dados do Programa Ecológico de Longa Duração nas Ilhas Oceânicas (PELDILOC), com censos subaquáticos realizados desde 2007. Essas informações são essenciais para a análise da diversidade e abundância das espécies, permitindo comparações entre diferentes anos. 

Nogueira utiliza a Diversidade Beta – métrica ecológica que quantifica a variação na composição de espécies entre diferentes áreas de uma comunidade – para avaliar essas variações: “Comparo uma assembleia [comunidade de peixes] de um ano com o ano subsequente e vejo tanto as diferenças em espécies quanto na quantidade delas.” Até agora, o pesquisador observa que as ilhas estão passando por um processo cíclico natural, no qual as espécies apresentam variações ao longo do tempo, mas tendem a retornar. “As espécies originais das primeiras coletas estão voltando. Isso mostra que as mudanças são, em parte, naturais e cíclicas”, revela.

Representação gráfica da variação da comunidade de peixes ao longo do tempo, nos primeiros anos, representados pelas bolinhas em azul escuro. É possível observar que os pontos tendem a se manter próximos, indicando uma menor variação. [Imagem: Arquivo pessoal – Esteban J. Nogueira]
Embora ainda não haja evidências de que os impactos do antropoceno estejam afetando gravemente as populações de peixes recifais dessas ilhas, o pesquisador ressalta a importância de permanecer vigilante. “Essas áreas são preservadas e monitoradas, mas, caso não fossem protegidas, certamente estariam sendo impactadas, especialmente pela pesca”. Ele também destaca a interconexão da natureza e os possíveis efeitos das mudanças climáticas, como o branqueamento de corais, que já ameaça diversos habitats marinhos.

O estudo pretende fornecer uma base científica para políticas de conservação mais direcionadas. “Ao entendermos como esses animais estão variando ao longo do tempo, podemos observar tendências e mudanças nas comunidades, orientando ações para manter esses locais estáveis e resilientes.”

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