Varandas envidraçadas dificultam conforto térmico nos apartamentos

Quando usadas como um espaço interno, as sacadas transformam o ambiente em uma espécie de estufa

(Foto: Divulgação)

Ao pensar nas tendências do mercado imobiliário residencial, Carolina Abrahão Alves — doutora pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP — buscou em seu doutorado construir um modelo padrão de imóvel que representasse a maioria dos apartamentos da cidade de São Paulo. 

Para atingir seus objetivos, a arquiteta fez uma ampla pesquisa: “Fizemos o levantamento em cerca de quatro unidades, conversamos com moradores, entramos nas residências e vimos como elas se configuravam”. Graças a isso, o “apartamento base” foi definido como uma unidade de 52 m² com dois dormitórios e um banheiro. “Foram adotados dois modelos: um sem e outro com varanda”, comenta.

Figura 1. Planta do modelo de apartamento utilizado nas simulações computacionais, sem a inclusão da varanda. (Foto: “A produção recente de edifícios residenciais em São Paulo: desempenho e conforto térmico no contexto urbano e climático em transição”, Carolina Abrahão Alves)
Figura 2. Planta do modelo de apartamento com varanda utilizado nas simulações computacionais. (Foto: “A produção recente de edifícios residenciais em São Paulo: desempenho e conforto térmico no contexto urbano e climático em transição”, Carolina Abrahão Alves)

Esses apartamentos foram usados, então, para analisar como vivem as pessoas na cidade de São Paulo e, principalmente, como é conforto térmico dos paulistanos nas residências. Na pesquisa, ela ainda aproveitou para estudar a mesma condição em um cenário futuro entre os anos de 2045 e 2074, quando as temperaturas médias anuais estarão aproximadamente 3ºC mais elevadas que atualmente.

Para explorar a noção de conforto térmico, a pesquisadora baseou-se na norma estadunidense chamada ASHRAE 55. Ela determina as condições ideais para que um humano se sinta satisfeito com a temperatura de um local, considerando que ela pode responder às variações, adaptando-se, por exemplo, através da utilização de roupas adequadas. 

Nas análises da arquiteta, ficou evidente que o envidraçamento das varandas — encontrado em alguns edifícios — pode ser prejudicial para o conforto térmico. “Elas [as varandas] estão sendo usadas como um espaço interno, com mobília. E assim, elas transformam o apartamento em uma espécie de estufa ao favorecerem a captação de radiação solar (calor)”, comentou.

A fim de buscar alternativas para o problema, encontrando um modelo de construção com melhor desempenho térmico, Carolina buscou saber como mudanças nos edifícios poderiam afetar a sensação de conforto. A dúvida dela era a seguinte: “Se alterar as características da parede, da abertura e da ventilação do apartamento base, que tipo de resultados seriam obtidos?”. A resposta para essa questão foi encontrada por meio de simulações computacionais.

Descobriu-se que o sombreamento do prédio pode diminuir o calor dos apartamentos. “Com o sombreamento do vidro, o Sol não bate diretamente na vidraça e, assim, impede a entrada de radiação no ambiente”, conta a pesquisadora. Além disso, uma abertura generosa das varandas também pode ser uma solução. “Se ela se mantiver aberta em grande parte do tempo, a ventilação natural certamente melhorará o conforto térmico, em caso de desconforto por calor”.

A pesquisadora ainda ressalta que o uso de ar condicionado para refrigerar o ambiente não é a melhor alternativa. “Em um cenário de busca pela sustentabilidade, não parece correto pensar em uma solução que gasta energia e ainda vai pegar o calor e jogá-lo para fora, aquecendo mais as cidades”, aponta.

Para Carolina, todas essas questões merecem atenção principalmente pelas consequências que esse cenário pode provocar. Se os edifícios permanecerem como estão, daqui cerca de 40 anos, haverá um aumento das horas anuais em desconforto por calor de 6% para 33%. “Em um caso extremo, as temperaturas elevadas podem provocar problemas de saúde, de estresse térmico”, alerta.

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