
As tragédias climáticas têm se tornado, cada vez mais, assunto de manchetes de jornais. Em 2024, apenas no Brasil, a população enfrentou ondas de calor, grandes enchentes e queimadas por todo o país que levaram cidades brasileiras a ter a pior qualidade do ar do mundo. A forma como estas matérias são escritas e formam a opinião dos leitores intrigou linguistas e pesquisadores.
Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), a tese de doutorado de Célia Regina Arães deu enfoque no modo em que alguns dos maiores veículos midiáticos do país negligenciam os prejuízos ecológicos ao falar de desastres ambientais. Foram 60 textos analisados, retirados da Folha de S.Paulo e de O Estado de S.Paulo. As matérias são a respeito de quatro desastres ambientais: a explosão da usina nuclear de Chernobyl (1986), o vazamento de petróleo no Alasca pelo navio Exxon Valdez (1989) e os rompimentos de barragem de mineração em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).
A especialista tem uma abordagem crítica ao antropocentrismo, que tem como base a hierarquização da humanidade diante de outros ecossistemas e vai ao encontro com da linha seguida pelos jornais analisados. Com a leitura dos textos, Célia notou a falta de termos que denotam o prejuízo ambiental para além do humano, como “natureza”, “meio-ambiente” ou “preservação”. A maioria das matérias tem enfoque nos agentes que seriam os culpados pelo evento, como empresas ou governos locais, mas negligenciam os verdadeiros afetados, sejam esses a população que foi morta, ferida e desamparada, ou os ecossistemas ao redor.
Para Pedro Chiquitti, articulador da Coalizão pelo Clima e estudante de história da FFLCH, existe uma tendência do sistema político, – que afeta também a mídia – em despolitizar a crise climática. Ele critica a tentativa de resumir o debate sobre o clima e a transição energética a algo simplesmente técnico, retirando a disputa de projeto político da ordem do dia. “Não existe contradição em defender a natureza e defender a humanidade. Hoje, defender a humanidade é pensar uma nova relação entre natureza e ser humano, que seja capaz de sustentar a vida na terra.”, reforça Pedro.
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