
Um projeto da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP busca promover a equidade e reduzir a violência nas escolas por meio da educação em direitos humanos.
A iniciativa, coordenada pelo professor Vitor Blotta, do Departamento de Jornalismo e Editoração, faz parte do Cepid (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão) do Núcleo de Estudos da Violência da USP, em funcionamento desde 2013. Este projeto é um desdobramento do Observatório dos Direitos Humanos nas Escolas, também vinculado ao Cepid.
O foco é mitigar os efeitos da pandemia e do isolamento social, que obrigou os alunos a passarem mais de dois anos em ensino remoto, afetando sua capacidade de socialização.
“Não conseguimos ainda dados exatos sobre os efeitos da pandemia, mas ficou claro que, com o retorno às aulas presenciais, muitos alunos, especialmente os mais novos, enfrentaram dificuldades de interação e apresentaram crises de ansiedade”, explica Blotta, destacando a importância da iniciativa.
Os impactos não se restringiram aos alunos mais jovens. Segundo Blotta, estudantes do terceiro ano do ensino médio também voltaram às aulas com uma sensação de falta de perspectiva.
“Os problemas da pandemia afetaram todos os estudantes, mas de formas diferentes. No caso dos mais velhos, observamos uma sensação de falta de perspectiva profissional e pessoal. Muitos retornaram mais agressivos, seja pela incerteza quanto ao futuro ou pela dificuldade de socialização”, aponta o professor.
Esse aumento da agressividade nas escolas resultou em mais casos de violência, como bullying e brigas. Diante disso, o projeto busca reduzir esses comportamentos a partir de conceitos de direitos humanos.
O professor explica que a iniciativa abrange toda a comunidade escolar – alunos, professores e funcionários – com o objetivo de fortalecer o sentimento de pertencimento. “Nosso foco é garantir que todos se sintam parte ativa da escola, compreendendo seus direitos e deveres e respeitando uns aos outros”, afirma Blotta.
Para ele, essa sensação de pertencimento é fundamental para reduzir a violência. “Quando o aluno se sente parte da comunidade escolar, ele se torna mais propenso a respeitar as diferenças e a individualidade de si e dos colegas”, reforça o professor.
As atividades do projeto envolvem ações de sensibilização, promovendo diálogos que incentivam o conhecimento mútuo. “Trabalhamos com filmes, documentários e rodas de conversa para entender como as crianças se comportam e introduzir noções de direitos humanos e discussões sobre situações de violação”, explica Blotta.
O projeto trabalha com a aceitação das diferenças entre os alunos e a autoaceitação, focando em temas como cor, gênero, orientação sexual e outros pontos sensíveis, alvo de discriminação e violência tanto na escola quanto na sociedade.
Desde 2023, o projeto atua em escolas da rede municipal e estadual de São Paulo, incluindo uma instituição de ensino em Paulínia, no interior do estado. Embora esteja em fase inicial, os resultados são animadores.
“Embora não tenhamos ainda um retorno completo das crianças, os professores demonstram grande interesse em continuar com o projeto e ampliar o uso de materiais sobre direitos humanos nas escolas”, conclui Blotta.
O projeto é financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e segue em expansão.
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