Pesquisadores da USP desenvolvem nova tecnologia para monitorar mortalidade sazonal

Pesquisa propõe método elaborado de análise que pode auxiliar na formulação de políticas públicas de saúde

Hospital do Sistema Único de Saúde (SUS)
Hospital do Sistema Único de Saúde (SUS) Foto: Agência Brasil

A dissertação de Victor Foscarini, do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), propõe um método inédito para entender a sazonalidade da mortalidade no Brasil, com o potencial de orientar políticas de saúde pública adaptadas a cada região.

Com o intuito de medir a variação sazonal da mortalidade em diferentes contextos regionais do Brasil e investigar os fatores ambientais que contribuem para essa sazonalidade, o  estudo cobre o período de 2000 a 2019, utilizando mais de 22 milhões de registros de mortalidade do banco de dados do Ministério da Saúde, todos classificados conforme os códigos da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças).

Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), o pesquisador aponta que o SUS chega a várias regiões remotas, e isso se traduz em uma base de dados anonimizados, disponíveis ao público. “Não existe em nenhum outro lugar do mundo nessa escala”, pontua.

O pesquisador defende que há vários estudos europeus que comparam a sazonalidade entre países, e apenas os estados mais ao sul do Brasil — região Sul e Sudeste— são mais parecidos com a Europa. Já estados mais ao norte, como Ceará e Amazonas, são bem diferentes dos países europeus em termos de sazonalidade.

 “É muito desafiador encontrar uma métrica que funcione para todas as regiões. A principal contribuição da nossa pesquisa foi essa nova métrica, um novo método de medir a sazonalidade que se aplica a todas as regiões, apresentando vantagens sobre métodos existentes”, pontua.

A variação da mortalidade durante o ano é um fenômeno amplamente observado, especialmente em regiões de clima temperado, onde se constata um aumento nas mortes durante o inverno. O Brasil possui condições climáticas que variam de temperado a tropical e equatorial, e uma base de dados de saúde pública divulgada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa um ambiente favorável para pesquisas.

A pesquisa combina métodos de epidemiologia e análise de séries temporais. A base de dados de mortalidade do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) é usada para extrair os registros de óbitos, que são então analisados por causas de morte, gênero e faixas etárias. A metodologia inclui o cálculo de taxas de mortalidade padronizadas, levando em consideração a demografia brasileira e ajustando para variáveis de confusão, como idade e sexo.

“Basicamente, nosso método tem várias vantagens, e calculamos a sazonalidade considerando apenas a série temporal anual de mortes. Não consideramos o clima para medir a sazonalidade porque não queremos fazer suposições, como assumir que há mais mortes no inverno. Isso poderia valer para os estados ao sul, mas não para os estados ao norte”, explica.

Além dos dados de mortalidade, o pesquisador utiliza dados climáticos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), focando em variáveis como temperatura do ponto de orvalho, pressão atmosférica, umidade relativa e radiação global, analisadas em relação à mortalidade para entender as correlações entre clima e saúde pública.

Os resultados do estudo revelam padrões anteriormente não observados no Brasil. Embora a sazonalidade seja mais pronunciada nas regiões sul e sudeste do país, onde o clima é mais temperado, há também uma sazonalidade considerável nas regiões tropicais e equatoriais do norte do país, com padrões que variam em termos de intensidade e período de ocorrência.

“Em nossas análises, encontramos que há, nos estados mais ao sul, mais mortes no inverno por conta da temperatura. Nos estados ao norte, geralmente há mais mortes no verão, devido à umidade. Isso é um pouco mais complicado no norte porque lá existe o que chamam de “inverno amazônico”, onde as estações são trocadas. Nossas medidas capturam essa diferença, mostrando que o período de mortes no norte é diferente do período de mortes no sul”, acrescenta.

Sobre a importância do estudo para a definição de novas políticas públicas, o pesquisador argumenta que a principal contribuição é sobre a alocação de recursos. “Se os gestores sabem que há mais mortes em um período do ano do que em outro — e que esses períodos variam em cada região do Brasil —, então podem elaborar políticas públicas diferentes para cada região e, assim, alocar recursos conforme a necessidade”, defende Victor Foscarini.

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