Descoberta de novas espécies pode transformar a indústria do cacau

Segundo Matheus Colli-Silva, espécies silvestres do gênero Theobroma podem fornecer genes capazes de garantir maior resiliência na produção de cacau, além de impulsionar a conservação da Amazônia

O grupo dos cacaus possui espécies tradicionalmente alocadas em dois gêneros, Theobroma e Herrania [Acervo pessoal/Matheus Colli-Silva]

Um estudo conduzido pelo botânico Matheus Colli-Silva, durante seu doutorado no Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), resultou na identificação de três novas espécies do gênero Theobroma, conhecido por incluir o cacau. O estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e envolveu a análise de amostras de herbários, coleções biológicas fundamentais para estudos taxonômicos.

O especialista informa que esses espécimes, coletados ao longo de décadas e armazenados, apresentavam características morfológicas distintas, não correspondendo a nenhuma espécie até então descrita pela ciência. Apesar disso, o fato de muitos materiais coletados no Brasil e na América do Sul estarem armazenados no exterior dificultou o acesso a essas coleções.

Importância das novas espécies

A descrição de novas espécies tem implicações que vão além da ciência botânica, abrangendo questões relacionadas à própria história humana, em que servem de base para realizar inúmeras pesquisas derivadas. “No caso de Theobroma, a descrição de novas espécies oferece oportunidades para comparações genéticas, o que pode ser vital para o melhoramento de Theobroma cacao, a espécie usada na produção de chocolate.” Colli-Silva comenta que a diversidade genética dessas novas espécies pode abrir portas para inovações na produção agrícola, para produzir ou entender os mecanismos de resistência a patógenos.

A vassoura-de-bruxa, uma doença que devastou as plantações de cacau no Brasil nas décadas de 1970 e 1980, é um exemplo claro dos riscos que a baixa diversidade genética pode trazer. O doutor ainda explica que a análise pode ajudar a preparar a espécie para mudanças climáticas, especialmente na Amazônia, floresta onde as espécies de cacaus são originárias ou nativas. Tudo isso é capaz de garantir a sustentabilidade da produção de cacau, a partir do desenvolvimento de variedades mais resistentes a pragas e condições climáticas adversas, fatores críticos diante da crise atual no setor.

Nativas de diferentes países da região amazônica, uma das novas espécies foi encontrada no Brasil [Divulgação/Springer Nature/Matheus Colli-Silva]

Potenciais da descoberta

O impacto potencial dessa pesquisa na indústria do chocolate é considerável. O pesquisador afirma que, embora ainda seja difícil prever o alcance das descobertas, o aumento do conhecimento sobre a diversidade genética de Theobroma pode fornecer genes que levem ao desenvolvimento de plantas mais resistentes e produtivas, o que ajudaria a enfrentar os desafios da produção de cacau e proporcionaria inovações no setor.

A descoberta de novas espécies de Theobroma também destaca a importância dos esforços de proteção da Amazônia — um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do mundo — ao contribuir para a formulação de políticas de conservação que assegurem a preservação da sua biodiversidade única. Colli-Silva complementa: “Este estudo pode abrir portas para novas pesquisas na botânica amazônica, caso haja interesse da indústria, destacando a importância dos herbários e das coleções biológicas para a descoberta e conservação de espécies”.

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