Livro de ensaios celebra 20 anos de leituras coletivas de Guimarães Rosa

Após mais de mil encontros semanais no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), Oficina de Leituras convida o público para reler o autor de “Grande sertão: veredas”

João Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, em 1967. [Imagem: Correio da Manhã/Wikimedia Commons]

Romancista, poeta, diplomata e médico, João Guimarães Rosa está entre os maiores escritores do século 20. Há duas décadas, sua obra reúne um grupo de leitores que acaba de lançar o primeiro e-book de uma trilogia memorial. Travessias: 20 anos da Oficina de Leitura Guimarães Rosa IEB-USP: Livro I é organizado pelos professores Elni Elisa Willms, Rogério de Almeida e Michel Riaudel, que frequentam os encontros às quarta-feiras, das 18 às 20 horas, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), no Edifício Brasiliana da Universidade de São Paulo.

Na Oficina, as leituras em voz alta promovem as trocas orais que Rosa deixou como legado. Apaixonado pela língua portuguesa, o autor é conhecido pela criação de neologismos, união de palavras para originar novos significados, como “ensimesmudo” (ensimesmado e mudo), “velhouco” (velho louco) e “suspirância” (suspiros repetidos).

Rosa em 1952, enquanto viajava pelo sertão brasileiro. [Imagem: Eugênio Silva/Wikimedia Commons]
“Ler Guimarães Rosa é aprender a reparar na grandeza da vida – das plantas e dos animais, dos rios e do ar, do céu e da terra, da noite e do dia, do visível e invisível, do fogo e também das pessoas”, afirma Willms. A organizadora divide as quase 500 páginas do e-book em seis capítulos: Palavras dos organizadores, Um livro e a cidade natal de Rosa em três línguas (português, inglês e espanhol), 10 Ensaios acadêmicos, 6 Ensaios ficcionais, Cartas e outros recados e Poesias.

“Travessias” é ilustrado por bordados feitos por leitoras da Oficina. [Imagem: IEB]
Em 20 anos, a roda de leituras mostra impactos diretos e indiretos. Uma das histórias relatadas em “Travessias” é a de Mônica Gama, professora na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP-MG), que fez parte do núcleo inicial da Oficina, quando ainda era estudante. Gama conta que repassa aos seus alunos os ensinamentos da roda: “[Dando aulas sobre Rosa], falava muito sobre a importância também da leitura em voz alta”, afirma, “Teve consequências para minhas pesquisas. Fui pesquisando sobre o lugar do leitor na obra, o quanto que a obra é construída textualmente pensando”.

Desde 1972, o arquivo pessoal e a biblioteca particular do escritor compõem o acervo do IEB-USP – fonte de consultas para pesquisadores de diferentes países. Os encontros de leitores, de professores universitários à pré-adolescentes, mantém a voz rosiana viva para além da academia. A contribuição, materializada no livro, também pode ser ouvida em mais de 50 episódios do Podcast IEB, com quase dez horas de áudio gravado pelos membros do grupo ao longo da pandemia de Covid-19.

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