Mulheres viajantes no século 19: evento discute arqueóloga e artista Adela Breton

Gratuito e aberto ao público, webinário do IEB-USP reúne pesquisadoras para estrear ciclo de palestras mensais

Mural de Adela Breton [Imagem: Meisterdrucke/Domínio público]

No último dia 29 de maio, o primeiro IEBinário apresentou Mulheres viajantes no século XIX: Adela Breton e as ruínas mesoamericanas, pesquisa da doutora em Teoria e História da Arte pela UnB, Fátima Madeiro. Interdisciplinar, a conversa também recebeu Stella Franco, professora de história na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e especialista em tais viagens, além da mediação de Ana Paula Simioni, professora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e pesquisadora de mulheres artistas. A transmissão com chat ao vivo começou às 14h no canal de Youtube do IEB com gravação disponível após a palestra: https://www.youtube.com/live/aUxwcsVHKh8?si=Nv26O7bUvO6duqSQ.

Madeiro desenvolve essa pesquisa desde o ano passado, quando a levou para o Encontro de História da Arte, na Unicamp. Após o IEBinário, ela vai apresentar a trajetória de Adela Breton na França, no Congresso CIHA (Comité International d’Histoire de l’Art) Lyon, e poderá conhecer as pinturas originais concedidas ao Museu de Bristol, na Inglaterra. Em entrevista, a pesquisadora conta que Breton chegou ao México no fim do século 19, onde registra monumentos mesoamericanos em pinturas arqueológicas.

Por influência do pai, o comandante William Breton, e da cultura museológica da Londres vitoriana, sua arte logo se dedicaria aos murais do povo Maia. Madeiro se interessa pela dedicação da inglesa em capturar a coloração dos monumentos que já não existem mais daquela forma, seja por intemperismos, ou por restaurações mal sucedidas. “Eles são um dos únicos registros que se tem desses murais, que ainda estavam relativamente preservados naquele período, o pigmento, o uso da cor naquela cultura Maia”, explica a pesquisadora, “Retratar a cor é muito complicado, mas a dela tomou isso como como propósito mesmo.”

Nos estudos sobre mulheres viajantes no século 19, a historiadora Stella Franco examina a capacidade delas em romper as normas sociais de gênero da época, destacando não apenas suas conquistas individuais, mas também os contextos políticos e culturais em que suas jornadas ocorreram. Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), Franco explica que as viagens de Breton ocorrem em um momento que mulheres européias já transitavam pelas Américas, mas era esperado que seus registros ocorressem em diários pessoais ou cadernos de desenhos florais. A passagem de viajantes pelas Américas era contínua desde 1500, seja por razões comerciais, políticas ou diplomáticas, mas, naquele momento do imperialismo, até as viagens científicas funcionavam como braços do colonialismo.

Desenhistas, arqueólogos e botânicos se relacionavam com povos nativos em busca do conhecimento, o que não significava a oposição às hierarquias coloniais: “Mesmo com o aspecto científico, eles tinham interesse político por trás, porque aqueles viajantes, que vinham para conhecer a natureza latino-americana, estudavam essa natureza para depois levar para os museus”, afirma Franco. Com a pesquisa sobre essas mulheres viajantes, porém, foi observado um comportamento ambíguo: “Ela tinha uma sensibilidade em relação a essa população, mas ao mesmo tempo, é quase impossível abrir mão do Olhar Imperial”.

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