Nuvens de fumaça podem gerar mudanças climáticas na Região Metropolitana de São Paulo

Pesquisa busca analisar impactos de queimadas locais e continentais no clima da maior metrópole brasileira

Céu com concentração de gases efeito estufa no centro de São Paulo
Gases de efeito estufa presentes na cidade paulistana têm origens tanto internas quanto externas. [Imagem: Gabriel Fernandes/ Wikimedia Commons]

Desde redução de diversidade genética em pássaros até danos à saúde da população idosa, as mudanças climáticas decorrentes das ações antrópicas estão se mostrando cada vez mais preocupantes com o passar dos anos e das novas alterações geradas no meio ambiente.

Quando essa crise é inserida no contexto das megacidades – grandes aglomerados urbanos com alta densidade populacional – o cenário se torna ainda mais delicado. Essas regiões são centrais na problemática do aquecimento global, pois são emissoras de poluentes capazes de alterar o clima local e mundial, além de serem mais vulneráveis às mudanças climáticas extremas.

Mesmo que esses tipos de localidades tenham atividade industrial e veículos a combustão como grandes emissores de poluentes internos, também é necessário compreender os efeitos dos poluentes de origem externa. É o que propõe a pesquisa Impacto de queimadas e outras fontes de gases de efeito estufa e aerossóis na Região Metropolitana de São Paulo – de sigla RMSP.  Ela surgiu a partir do interesse de Gabriela Lima, doutoranda em Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), em estudar nuvens de fumaça provenientes de incêndios.

Concentração de dióxido de carbono RMSP/Bauru
Gráfico sobre a concentração de CO₂ na RMSP comparada com a cidade de Bauru, no interior. São Paulo sempre apresenta uma concentração maior, com exceção nos anos da pandemia de Covid-19, em que as concentrações se aproximaram. [Imagem: Reprodução/ Gabriela Lima]
“No Brasil, nos enganamos ao pensar que São Paulo é a maior emissora de gases efeito estufa quando, na verdade, são as cidades na região Norte por causa das queimadas e do desmatamento”, declara Márcia Yamasoe, professora associada do instituto e orientadora do projeto. Por essa razão, as pesquisadoras pretendem avaliar a concentração de gases como monóxido de carbono [CO], dióxido de carbono [CO₂] e metano [CH₄] oriundos de várias regiões da América do Sul.

O método escolhido para análise é baseado em sensoriamento remoto e imagens de satélites que possuem cobertura do continente. “Muitas vezes, a fumaça de queimada vai passar mais alto e mais espalhada do que os nossos instrumentos e estações conseguem captar”, diz Gabriela. A meteorologista explica que isso não é um problema no caso do satélite, porque, eventualmente, ele é capaz de passar acima da fumaça e realizar as medidas de CO₂ desejadas.

Os satélites OCO-2 (Orbiting Carbon Observatory-2) e OCO-3 (Orbiting Carbon Observatory-3), ambos da Nasa, possuem dados de acesso livre e estão sendo utilizados na pesquisa para comparar diversas informações sobre fumaça de queimadas externas à RMSP, como também investigar suas origens, seus percursos e impactos no clima da metrópole.

Pontos de foco de queimadas na América do Sul
De acordo com Gabriela, grandes focos de incêndio que geram as plumas de fumaça estão na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado e até no leste da Bolívia. [Imagem: NASA Earth Observatory por Joshua Stevens, NASA EOSDIS/LANCE, GIBS/Worldview, FIRMS, GFED/ Wikimedia Commons]

“Nuvens de fogo”

Outro fator analisado no projeto é o impacto das propriedades de transporte de gases poluentes e aerossóis por parte das pirocumulonimbus, nuvens “artificiais” geradas a partir de enormes incêndios. Essas nuvens são do tipo cumulus, mas ganham energia pelas massas de ar que sobem durante o incêndio e, assim, diferenciam-se ao serem formadas por partículas de fumaça. Como dentro delas forma-se uma corrente que levanta as partículas como pluma de fumaça, elas conseguem chegar em altitudes mais elevadas do que uma nuvem comum.

“A fumaça é injetada em altitudes mais elevadas e quanto mais alto ela estiver, mais tempo ela ficará na atmosfera”, diz a doutoranda. Márcia complementa, dizendo que a maior altitude também promove um maior transporte horizontal de todos os poluentes para outras regiões.

É esperado que o estudo se aprofunde nas dinâmicas de emissões da RMSP e nos seus possíveis impactos mensuráveis no clima da cidade. “Para termos uma noção do que São Paulo está emitindo sozinha, também precisamos saber o que está chegando de fora” afirma Gabriela. Ela explica que existe esse importante fator da fumaça de queimada transportada de outras regiões, como também há o padrão de circulação de vento, que acaba, muitas vezes, trazendo mais poluentes para a cidade. “Se não contamos com esses fatores, não conseguimos separar quais são as emissões próprias de São Paulo e seus efeitos”.

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