Desde redução de diversidade genética em pássaros até danos à saúde da população idosa, as mudanças climáticas decorrentes das ações antrópicas estão se mostrando cada vez mais preocupantes com o passar dos anos e das novas alterações geradas no meio ambiente.
Quando essa crise é inserida no contexto das megacidades – grandes aglomerados urbanos com alta densidade populacional – o cenário se torna ainda mais delicado. Essas regiões são centrais na problemática do aquecimento global, pois são emissoras de poluentes capazes de alterar o clima local e mundial, além de serem mais vulneráveis às mudanças climáticas extremas.
Mesmo que esses tipos de localidades tenham atividade industrial e veículos a combustão como grandes emissores de poluentes internos, também é necessário compreender os efeitos dos poluentes de origem externa. É o que propõe a pesquisa Impacto de queimadas e outras fontes de gases de efeito estufa e aerossóis na Região Metropolitana de São Paulo – de sigla RMSP. Ela surgiu a partir do interesse de Gabriela Lima, doutoranda em Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), em estudar nuvens de fumaça provenientes de incêndios.
“No Brasil, nos enganamos ao pensar que São Paulo é a maior emissora de gases efeito estufa quando, na verdade, são as cidades na região Norte por causa das queimadas e do desmatamento”, declara Márcia Yamasoe, professora associada do instituto e orientadora do projeto. Por essa razão, as pesquisadoras pretendem avaliar a concentração de gases como monóxido de carbono [CO], dióxido de carbono [CO₂] e metano [CH₄] oriundos de várias regiões da América do Sul.
O método escolhido para análise é baseado em sensoriamento remoto e imagens de satélites que possuem cobertura do continente. “Muitas vezes, a fumaça de queimada vai passar mais alto e mais espalhada do que os nossos instrumentos e estações conseguem captar”, diz Gabriela. A meteorologista explica que isso não é um problema no caso do satélite, porque, eventualmente, ele é capaz de passar acima da fumaça e realizar as medidas de CO₂ desejadas.
Os satélites OCO-2 (Orbiting Carbon Observatory-2) e OCO-3 (Orbiting Carbon Observatory-3), ambos da Nasa, possuem dados de acesso livre e estão sendo utilizados na pesquisa para comparar diversas informações sobre fumaça de queimadas externas à RMSP, como também investigar suas origens, seus percursos e impactos no clima da metrópole.
“Nuvens de fogo”
Outro fator analisado no projeto é o impacto das propriedades de transporte de gases poluentes e aerossóis por parte das pirocumulonimbus, nuvens “artificiais” geradas a partir de enormes incêndios. Essas nuvens são do tipo cumulus, mas ganham energia pelas massas de ar que sobem durante o incêndio e, assim, diferenciam-se ao serem formadas por partículas de fumaça. Como dentro delas forma-se uma corrente que levanta as partículas como pluma de fumaça, elas conseguem chegar em altitudes mais elevadas do que uma nuvem comum.
“A fumaça é injetada em altitudes mais elevadas e quanto mais alto ela estiver, mais tempo ela ficará na atmosfera”, diz a doutoranda. Márcia complementa, dizendo que a maior altitude também promove um maior transporte horizontal de todos os poluentes para outras regiões.
É esperado que o estudo se aprofunde nas dinâmicas de emissões da RMSP e nos seus possíveis impactos mensuráveis no clima da cidade. “Para termos uma noção do que São Paulo está emitindo sozinha, também precisamos saber o que está chegando de fora” afirma Gabriela. Ela explica que existe esse importante fator da fumaça de queimada transportada de outras regiões, como também há o padrão de circulação de vento, que acaba, muitas vezes, trazendo mais poluentes para a cidade. “Se não contamos com esses fatores, não conseguimos separar quais são as emissões próprias de São Paulo e seus efeitos”.
Que interessante!