Jornalismo desigual e excludente em tempos de extremismos políticos e culturais

Grupo de pesquisa da USP estuda como ocorrem as violências contra jornalistas e como grupos extremistas afetam o papel da imprensa

A produção jornalística é afetada pelos extremismos de forma desigual. Imagem: Marcos Santos / USP Imagens

As violências contra jornalistas ocorrem de forma desigual, especialmente em termos de raça, gênero e classe. Essa é uma das conclusões do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade (JDL), do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). Os pequenos veículos localizados em regiões afastadas dos grandes centros urbanos são os mais afetados. Além deles, Vitor Blotta, coordenador do JDL, afirma que jornalistas mulheres, principalmente as negras, sofrem maior violência, com atentados à sua vida privada, imagem e honra.

Um dos possíveis motivos para essa desigualdade no jornalismo é a atuação dos veículos de comunicação. “Temos que pensar em que medida o jornalismo hegemônico construiu ao longo de sua história espaços públicos desiguais e excludentes, ainda que dentro dos deveres éticos de precisão, diversidade e defesa dos interesses públicos”, afirma Blotta. Esse mesmo jornalismo é contraditório ao se identificar como os elementos essenciais do jornalismo e da informação confiável.

Ainda segundo o pesquisador, a atuação dos veículos de comunicação está atrelada à questão comercial e é afetada pela busca do lucro e poder a qualquer custo. As plataformas digitais e o capitalismo fazem a desinformação ser um fenômeno mais estrutural do que parece, o que a configura como uma ameaça à democracia. Outro fator que colabora para a desinformação ser estrutural, é a cultura de violência contra a liberdade de imprensa no Brasil e difusão da informação. 

Os extremismos

Essas características ficam mais evidentes em tempos de extremismos, em que organizações sociais e políticas de extrema direita, neofascistas e neonazistas no Brasil e no mundo, ganharam destaque na última década, relata Blotta.

Com a ascensão de novos grupos extremistas, o tema escolhido pelo grupo “Jornalismo, Liberdades de Comunicação e Extremismos”, em 2023, é necessário por causa da atuação dessas organizações. Muitas vezes, instituições extremistas estão relacionadas à “descredibilização da imprensa e de outras profissões e instituições voltadas para a produção de informação e conhecimento”, afirma o pesquisador. 

Uma das alternativas discutidas pelo grupo de estudos é “a promoção da educação midiática e educomunicação como formas de prevenção de extremismos e promoção da cidadania digital”, segundo Blotta. “Através dessas iniciativas, é possível criar espaços seguros para o confronto de ideias e informações, fomentando o respeito e o reconhecimento entre os diferentes”, acrescenta.

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