Presenteísmo e a precarização do trabalho da enfermagem

Falta de segurança leva enfermeiros a se desgastarem física e mentalmente no exercício da profissão

O medo e a pressão fazem profissionais da enfermagem se submeterem ao trabalho mesmo em condições não ideias de saúde física e mental [imagem: divulgação/ pixabay]
O medo e a pressão fazem profissionais da enfermagem se submeterem ao trabalho mesmo em condições não ideias de saúde física e mental [imagem: divulgação/ pixabay]

Pesquisa conjunta entre Brasil, Portugal e Espanha com 659 enfermeiros, aponta que o presenteísmo, situação em que um profissional se submete ao trabalho mesmo não estando em boas condições para exercê-lo, é uma característica comum entre os profissionais da enfermagem, além de acometer principalmente as trabalhadoras mulheres. 

O grupo de pesquisa envolveu a Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP), a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, ambas da Universidade do Porto, em Portugal, a Universidade de Oviedo, na Espanha, e a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Os resultados apontaram processos similares de adoecimento nos profissionais dos três países.

De acordo com a Patrícia Campos Pavan Baptista, professora titular no Departamento de Orientação Profissional da EEUSP e coordenadora da pesquisa no Brasil, o presenteísmo é apenas uma das muitas manifestações de adoecimento dos profissionais da enfermagem que, para a professora, é um reflexo da precarização do trabalho. “Quando me formei, fui trabalhar como enfermeira e percebi o adoecimento dos profissionais no hospital. Cada vez mais os direitos dos trabalhadores estão indo para o ralo, o trabalho está perdendo a característica de ser digno.”, diz.

Para a pesquisadora, há uma pressão sobre os profissionais da saúde para sempre estarem disponíveis ao paciente. Dentro da enfermagem, uma área ainda tida como “feminina” devido a prevalência de profissionais mulheres no setor, este fenômeno é intensificado. “A enfermagem, apesar do ingresso masculino na profissão, ainda é exercida predominantemente por mulheres que têm essa característica [pressão social] de abnegação”.

Patrícia complementa que a divisão social do trabalho também impacta nos números de presenteísmo. Quanto maior a vulnerabilidade social do profissional, maiores as chances dele se expor a condições inadequadas de trabalho por medo de ser demitido. “Se eu tenho um profissional que mora muito mais longe do trabalho e que tem mais dificuldade financeira, ele vai ter mais dificuldade para procurar tratamentos. O modo de viver influencia a forma de trabalhar, o modo de adoecer e de morrer”.

A professora reforça que o presenteísmo não é um fenômeno exclusivo da área da saúde, mas sim um reflexo do neoliberalismo nas relações de trabalho e também da hiper individualização do trabalhador que se encontra cada vez mais desamparado legalmente. “A instituição é corresponsável pelo adoecimento do seu trabalhador. Com a ‘pejotização’, as instituições estão cada vez mais culpabilizando o trabalhador e abrindo mão da sua responsabilidade. Elas não fornecem condições, materiais e nem processos adequados para as pessoas se manterem saudáveis nos postos de trabalho”, afirma Patrícia.

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