Exposição dividida em atos, do MAC, apresenta diversas formas de arte do cotidiano

Lugar-Comum, no Museu de Arte Contemporânea, coloca artistas a ocupar lugar de crítico em uma mostra quase autônoma

Escultura de Carmela Gross, que se espalha por quase uma sala inteira. [Imagem: Reprodução/MAC USP]

A curadoria de um museu pode ser um mistério para a maioria das pessoas, pois o que chega ao conhecimento do público é o resultado final do que é escolhido para ser exposto. Lugar-Comum, exposição do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC), pertencente à USP, promove uma experiência entre intelectuais, artistas e curadores. 

Dividida em três atos, com início em março e término em agosto, Lugar-Comum reúne, no ato 1, 15 obras de artistas vivos de dentro do acervo do MAC que tocam na questão do objeto cotidiano. A partir daí, as idealizadoras do projeto, Ana Magalhães, Helouise Costa e Marta Bogéa convidaram estes artistas a ocupar o lugar de crítico e de curador, selecionando outras obras para o segundo ato, em conjunto com seis convidados: Claudinei Roberto, Cláudio Mubarac, Paulo Pasta, Paulo Garcez, Regina Silveira e Tadeu Chiarelli. Já a última seleção, no ato 3, é feita em conjunto com todos que participaram da exposição, desde o início. A direção deixou a escolha dos artistas ser livre, e cada um deles escolheu uma obra que se aproximava do seu entendimento como profissional, ou do que ele estava produzindo no momento.

Gustavo Von Ha, no ato 1, coloca o ícone pop Britney Spears em uma imagem degradada – longe de ser um ícone. Em transmutação, ele sobrepõe o próprio autorretrato à cantora, trazendo-a para a categoria da normalidade. [Imagem: Reprodução/MAC]
A temática do Lugar-Comum traz o cotidiano transformado em arte, encaminhando o público a reconhecer, nos diversos itens, o que é comum a ele. Afinal, as vivências individuais levam ao reconhecimento. Em entrevista no Museu para a AUN, Marta Bogéa, uma das idealizadoras do projeto e vice-diretora do MAC, conta que Lugar-Comum propõe a discussão da autoridade dos curadores ao mesmo tempo que uma renovação do acervo institucional do Museu a partir de novas leituras e olhares. 

Experimental por essência, a exposição tem ritmo próprio, se configurando ao longo dos atos e brincando com as possibilidades. Ela se apresenta ao público como uma exposição diferente a cada ato. As paredes brancas do espaço exuberante do Museu, que no primeiro ato eram maioria, foram tomando cor e forma à medida que as escolhas eram feitas, havendo combinações por acaso e, no final, uma montagem que, ao público, parece proposital. Para Ana Magalhães, idealizadora da exposição e diretora do MAC, a maioria dos artistas convidados não tinham entendido a proposta ao aceitarem, mas confiaram no projeto. “Quando a gente convidou os artistas, dissemos ‘olha, nós estamos te convidando  para entrar no acervo do Museu e puxar para dentro da exposição a obra de um artista da coleção do museu que você entende que é importante para você, ou que tem a ver com seu interesse”, conta a diretora.

O intervalo de meses entre um ato e o outro foi necessário para o preparo de algumas obras que precisavam de cuidados especiais para serem expostas, haja vista a situação especial de cada uma – algumas obras têm 100 anos, outras estão desmontadas. Ana conta que antes mesmo do ato um ser exposto, o dois já estava pronto para ter o tempo de preparo e de análise do que era possível ser exposto ou não.

A natureza morta de Henry Matisse foi uma das obras selecionadas em conjunto para o Ato 3. Este quadro, em específico, foi um dos que teve a moldura retirada, ficando em madeira simples. [Imagem: Reprodução/MAC]
Diferente da maioria das exposições que têm uma pesquisa por trás da mostra, Lugar-Comum é por si só uma pesquisa dentro do acervo do MAC, sendo uma oportunidade única de acesso para muitos artistas ao acervo da instituição. Ana define a exposição como, ao mesmo tempo, um acúmulo de pesquisas individuais que são compartilhadas entre eles, e uma pesquisa feita na hora, justamente pelas reflexões e reconhecimento das obras, interligando-as entre si e entre a própria arte do sujeito. Ainda segundo ela, Lugar-Comum é uma exposição que permite uma visita parcial ou completa, pois cada obra se relaciona com a outra de forma diferente, o que possibilita diversas interpretações. “Você pode ler [a exposição] milhões de vezes e de diversas formas diferentes, parece um enigma muito grande ainda assim”. 

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