Rumo a transformação sustentável na indústria de têxtil e moda brasileira

Pesquisa propõe economia circular como alternativa competente para reduzir impactos negativos no meio ambiente e tornar sustentável o setor da moda

Imagem: Reprodução Rawpixel

A economia atual baseia-se na produção de bens, em sua maioria, sem mirar um fim útil, ou seja, uma economia linear, e a indústria da moda é um dos casos nos quais a perspectiva de sustentabilidade também é baixa. No entanto, há modelos de produção que visam um reuso contínuo dos materiais utilizados, o que traz melhorias à sociedade como um todo e um dos exemplos é a economia circular. No artigo Indústria têxtil e de moda brasileira: aspectos sociais rumo à economia circular, Letícia Galatti, mestre em têxtil e moda pela EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo) e consultora de negócios de moda há 13 anos, expõe o cenário atual da moda sustentável e a importância da economia circular nesse sistema.

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Inicialmente é importante compreendermos a lógica do ecossistema da moda, que engloba quase 8 milhões de trabalhadores. Sobre isso Letícia Galatti explica, em entrevista: “A cadeia de valor da indústria têxtil de moda, a indústria vai extrair recursos naturais, transformar esse recurso em matéria prima e a matéria é transformada em produto”. Ela continua “esses produtos chegam até o consumidor, que vai usar e doar ou vender, mas, em algum momento, esse produto vai ser jogado no lixo porque não tem mais como ser usado”. Já na economia circular esse produto pode ser reinserido na cadeia de valor, e ser usado novamente para compor um produto, e se isso não acontecer, ainda assim, ele será útil, tornando-se, por exemplo, compostagem e volta para a natureza de forma não danosa.

Assim, conseguimos compreender melhor a solidez da proposta da economia circular que, de acordo com a pesquisadora, durante a entrevista, “tem como origem os critérios materiais, então existe uma preocupação de como se administra recursos e não somente minimizar impactos, mas também como tornar esses impactos positivos para o meio ambiente”. Contudo, a economia circular torna-se mais abrangente, pois começa a ser utilizada como estratégia de sustentabilidade. Assim, mais áreas além do meio ambiente podem ser beneficiadas com esse modelo, já que ele ressoa nos âmbitos econômico e social.

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Letícia Galatti explica que em decorrência disso, inúmeras empresas têm alterado positivamente sua forma de lidar com a sustentabilidade e seus três pilares: social, econômico e ambiental, embora relacionem-se em diferentes graus com esses âmbitos. E quando falamos do mercado da moda, que não regula a maior parte das informações que chegam a nós, a composição da imagem da empresa pode não condizer com suas práticas. A pesquisadora ainda afirma que as “iniciativas pontuais são muito vistas dentro desse setor, existe um grande desafio dentro da nossa lógica de mercado de como fazer uma transição para uma economia circular ou um modelo mais sustentável.” 

Além disso, ter ciência dos níveis de sustentabilidade envolvidos em cada processo do ecossistema da moda, para produtores, comerciantes e consumidores é uma tarefa dificílima. “A cadeia global de valor é extremamente complexa, capilarizada e isso dificulta não apenas a transparência, mas, também, a elaboração de soluções padronizadas para que esse mercado supere o desafio de ser genuinamente transparente”, explica Letícia. “A existência de uma questão crítica que é a localização dos fornecedores, se eles estão perto é possível visitar esse espaço com frequência e entender se as normas estabelecidas estão sendo cumpridas”. 

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No entanto, raramente essa é uma possibilidade viável já que os processos dessa indústria iniciam-se na agricultura e passam por muitas fases, então, as certificações e os terceiros ficam responsáveis por fiscalizar o que acontece. Dessa forma, o consumidor hoje não tem ferramentas suficientes para olhar uma marca  criticamente a fim de ver se realmente a empresa é o que diz ser, fato prejudicial, pois, existe uma quantidade grande de resíduo que é nessa etapa de uso do consumidor. “Muitas vezes não é também por mal caráter da marca, empresas podem se dizer sustentáveis por usar determinado tipo de tecido, e por isso, realmente acreditar que são sustentáveis”.

Logo, tendo em vista a complexidade que configura o ecossistema da moda, a implantação da economia circular pressupõe uma mudança completa no sistema de produção têxtil. “Isso desde agricultura regenerativa, passando por energia limpa até o desenvolvimento de novos  materiais”, ressalta Letícia. Já existem algumas movimentações pontuais para alcançar um modelo que prolongue a vida útil dos produtos, no entanto, para a viabilização da economia circular, que visa um aproveitamento completo de toda a cadeia, uma mudança geral deve ser iniciada.

Imagem: Reprodução Flickr

Por fim, a pesquisadora afirma “ que podemos considerar como apoio em termos de movimentação legal no Brasil é a política nacional de resíduos sólidos, que determina algumas obrigações para que instituições os  gerenciem”. E a lista suja, que expõe empresas que dispuseram de trabalho escravo para desenvolver seus serviços e que teve mais 52 empregadores adicionados à lista esse ano, é outra ferramenta para uma gestão mais sustentável economicamente. Contudo, nenhum destes dois itens infere diretamente na transformação geral que visa a economia circular, assim, ongs e instituições que debatem essas  temáticas são valiosas para a viabilização desse sistema.

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