Pesquisadores do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB) criaram uma opção terapêutica que promete reduzir o risco de desenvolvimento de tumores nas mamas, no caso de mulheres predispostas à doença. Trata-se de um gel produzido a partir de etossomas – vesículas lipídicas contendo uma substância chamada fenretinida.
Segundo Alexsandra Apolinário, pesquisadora do ICB-USP que participou do estudo, esse fármaco pertence ao grupo dos retinoides (derivados da vitamina A), comumente empregados para o tratamento de doenças dermatológicas. Uma vantagem do medicamento baseado na fenretinida é que ele não provoca reações adversas graves. “A fenretinida ainda não foi aprovada para o uso, por estar em fase de estudos clínicos, mas se mostrou bastante segura. A única reação que ela causa é a dificuldade de enxergar no escuro, porém isso é passageiro.”
Os dois principais fármacos utilizados como terapias preventivas para o câncer de mama atualmente são o tamoxifeno e o raloxifeno, que podem provocar efeitos colaterais sérios, como o tromboembolismo e até mesmo o câncer de colo de útero. Embora mais segura, a fenretinida ainda não era considerada uma alternativa viável às opções existentes. “As duas únicas vias de administração da fenretinida que vêm sendo utilizadas no mundo são a via oral e a injetável. Porém, a via injetável não é indicada para fins de prevenção, enquanto as cápsulas para via oral precisariam conter uma quantidade extremamente alta de fenretinida para causar o efeito desejado.”
Para superar essas dificuldades, os cientistas envolvidos na pesquisa se dedicaram ao desenvolvimento de uma solução tópica, com maior facilidade de aplicação, controle de dosagem e penetração na pele. No método utilizado, a fenretinida (uma substância lipossolúvel) é encapsulada em vesículas lipídicas na escala nanométrica – os etossomas – de modo a aumentar sua solubilidade. Em seguida, produz-se um gel. Uma vantagem dessa formulação é sua baixa toxicidade, conforme comprovaram os pesquisadores por meio de testes de irritação de pele.
A pesquisadora do ICB-USP ressaltou que um dos objetivos do estudo era desenvolver uma opção terapêutica de produção “simples, rápida e barata”, que pudesse ser fabricada em escala industrial.
O medicamento criado se destina a mulheres suscetíveis ao desenvolvimento de câncer de mama, sobretudo aquelas que já tiveram um tumor anteriormente e podem sofrer uma reincidência. Mulheres que nunca foram acometidas pela doença, mas que têm predisposição genética, também podem utilizar o gel.
Cabe ressaltar que a incidência de câncer de mama entre as mulheres brasileiras é elevada: segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), esse é o tipo de câncer mais comum, após o câncer de pele não-melanoma. O Instituto estima, ainda, que ocorrerão aproximadamente 66 mil casos novos da doença no país em 2022.
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