Na quarta-feira, 18 de maio, o projeto de Observatórios de Zonas Críticas (OZCs) do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), liderado pelo professor de Meteorologia Humberto Ribeiro da Rocha, foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A iniciativa, que já existe também na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP), ganhará novos objetivos e campos de pesquisa em 2023 e é a primeira rede de OZCs do Brasil. O nome escolhido, Centro para Segurança Hídrica e Alimentar em Zonas Críticas, já anuncia os maiores focos de estudo: propor aperfeiçoamentos e soluções para tais problemáticas.
Os locais selecionados para as instalações são cabeceiras de bacias hidrográficas, talhões agroecológicos ou agrícolas e áreas urbanizadas no estado de São Paulo. Entre os pontos de interesse dos cientistas estão avaliar os efeitos de redução de insumos químicos artificiais, os benefícios da melhoria da informação agroclimatológica na cadeia de produção e na economia circular, as vantagens da restauração da vegetação otimizando a permeabilidade da superfície e o alerta na redução de risco ao granizo e às enchentes. A ideia é responder a algumas indagações urgentes para a atualidade: será que estamos fazendo essa exploração ambiental de modo sustentável? Como os nossos recursos responderão às mudanças climáticas?
As Zonas Críticas — termo cunhado em 1998 pela professora Gail Ashley, da Rutgers University — são compreendidas entre a atmosfera interior e o topo rochoso, incluindo o solo e as zonas fraturadas por onde circulam as águas subterrâneas. Nelas, se dão todas as interações entre rochas, solos, águas, ar e organismos que sustentam a vida no planeta. “Esse conceito e o seu monitoramento são instrumentos importantes para o entendimento da crescente influência antrópica no meio físico, biológico e social”, diz Andréa Teixeira Ustra, professora de Geofísica do IAG.
“Estudaremos o impacto do homem, a quantificação dos recursos hídricos e a resposta climática. Conforme exploramos a água subterrânea e usamos muita água na agricultura, isso acaba interferindo nos aquíferos”, ela explica sobre as motivações desses novos observatórios programados para o ano que vem. “Tudo isso também tem uma resposta climática e o próprio clima tem um efeito nas águas subterrâneas e superficiais”, acrescenta. Nesse ciclo hidrológico, insere-se o efeito de urbanização, de plantação e de ação do ser humano no geral.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-USP), o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e o Instituto Agronômico (IAC) são parceiros do programa. A equipe do IAG contém desde hidrogeólogos, geofísicos, biogeoquímicos, cientistas de solos até meteorologistas. A professora esclarece que a Geofísica irá procurar por padrões, de forma a fornecer parâmetros hidrogeológicos para que seja possível modelar os aquíferos e entender como eles, sendo livres ou confinados, estão respondendo nessas regiões de agricultura ecológica ou convencional e nas cidades. Além do monitoramento, será praticada caracterização, mapeamento, perfilagem e instalação de poços.
Os métodos da área utilizados nos processos de pesquisa apresentam diferentes vertentes. “Nos indiretos, medimos em tempo real variações de uma propriedade física. Em Zonas Críticas, usamos muito as propriedades elétricas, vemos como a resistividade do solo está variando, se ela é sensível à água e se os minerais são metálicos ou são grãos arenosos”, elucida a docente. “Há também métodos sísmicos, nos quais fazemos uma perturbação mecânica no terreno e com vários sensores analisamos como as ondas sísmicas estão se propagando”, completa. Outra forma de investigação é a direta, com análise em laboratório dos materiais. Andréa conta que, para uma compreensão profunda e holística da Zona Crítica, essas disciplinas são trabalhadas em conjunto.
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