Pela primeira vez na história, o supercomputador Tupã do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deve ser desligado de suas atividades de monitoramento climático. Programada para agosto, a finalização do monitoramento da máquina do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) é resultado da necessidade de contenção de gastos pelo Instituto. O diretor do INPE, Clézio di Nardin, divulgou um vídeo nesta última segunda-feira (14) afirmando que o equipamento será substituído por um novo aparelho mais rentável.
Em agosto de 2020, uma decisão unilateral da Agência Espacial Brasileira (AEB) zerou os repasses destinados à pesquisa para o INPE neste ano. Com os cortes, o orçamento final do Instituto em 2021 foi de R$ 76 milhões, um decréscimo de 18% em relação ao valor de 2020. Ainda assim, apenas R$ 44,7 milhões foram liberados para o Instituto até o momento. Somente em energia elétrica, o Tupã consome um total de R$ 5 milhões ao ano.
O Tupã e a crise energética
O Tupã foi adquirido no ano de 2010 e era considerado um dos equipamentos mais potentes do mundo. De acordo com Nardin, o novo equipamento deve manter a mesma capacidade do supercomputador, mesmo sendo de menor porte. Em outubro do último ano, o diretor do INPE afirmou, em entrevista, considerar a possibilidade de trocar o supercomputador por computadores mais econômicos e menos potentes, como alternativa provisória para redução de gastos.
De acordo com o professor do departamento de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), Tércio Ambrizzi, a situação de indecisão sobre o monitoramento é tensionada em virtude do período de seca contínuo dos últimos anos. Para ele, o desligamento do supercomputador pode representar o estabelecimento de uma nova crise de informação no país.
Atualmente, o Brasil passa por uma das piores secas da história. Além disso, há a possibilidade da implantação de um regime de racionamento energético ainda neste ano devido ao baixo volume de chuvas e a dependência das hidrelétricas, como um dos principais fatores responsáveis por essa situação. “Os cortes ocorrem num período em que o clima está tendo um impacto grande em diferentes setores da economia. Esse é, na verdade, o momento em que as pesquisas deveriam ganhar força para melhorar as previsões de clima”.
Ciência e meio ambiente em risco
O INPE é também um órgão responsável pelo monitoramento das queimadas. “O início da temporada de queimadas no país já se iniciou de uma forma mais intensa, algo que se reflete em função do próprio clima, e todas as indicações são de que isso tende a piorar”. Além dessa pontuação, Ambrizzi reafirma a importância do INPE para a fiscalização ambiental a fim de combater as queimadas criminosas.
De acordo com dados do próprio Instituto, as queimadas na Amazônia e no Cerrado no mês de maio deste ano atingiram os maiores valores desde 2007. Com um aumento de 65% em relação ao último ano, o contexto é crítico para a manutenção ambiental dos biomas do país.
O contexto de desinformação não se estende somente ao INPE. Com o encolhimento da produção científica nacional, os desafios do país para se desenvolver de forma autônoma e eficiente são acentuados. “É muito triste. Outros institutos de pesquisa e universidades federais estão sofrendo os mesmos tipos de cortes e isso, com certeza, vai ter um impacto grande num futuro muito próximo”.
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