Pesquisadora investiga impacto da religião na formação pessoal e social de adolescentes e jovens adultos

O Mestrado de Rachel Omoto investiga temas como o engajamento político de jovens frequentadores de centros religiosos, assim como suas lutas pessoais e metas

Centro Magis Anchietanum [Imagem: Acervo Pessoal/ Rachel Omoto]

A religião tem um forte papel de influência na vida de muitos, fazendo parte de suas formações pessoais. Isso não é diferente para os jovens, dos quais muitos têm a religião, principalmente a cristã, como algo presente em suas vidas. Foi a partir daí que Rachel Omoto Gabriel desenvolveu sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Educação (FE) da Universidade de São Paulo, denominada “Para além da curva da estrada: a influência da socialização religiosa nas trajetórias e projetos de vida de jovens”.

O estudo partiu de uma pesquisa de campo no Centro Magis Anchietanum, um centro católico da cidade de São Paulo (SP). Como educadora do grupo durante alguns anos, Rachel acompanhou muitos dos sonhos e lutas dos jovens que lá frequentam, o que a levou a fazer a pergunta base para sua pesquisa: “Que diferença a religião realmente faz para esses jovens frente ao desafio comum a outros tantos jovens de tecer projetos de vida e de futuro na complexa sociedade contemporânea e excludente realidade brasileira?”.

Uma das coisas que Rachel destaca desde o início da sua pesquisa é a presença de frequentadores do centro muito engajados politicamente, o que contraria um senso comum de que pessoas fortemente adeptas a religiões são alienadas ou doutrinadas. A pesquisadora explica que existe uma vertente de luta política na religião católica e que a viu representada no Anchietanum. “A surpresa, talvez, tenha sido me deparar com um profundo nível de engajamento de muitos desses jovens na luta por direitos e na disposição para a política”, diz Rachel em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN).

Rachel explica que os jovens eram críticos até com alguns dos posicionamentos da própria Igreja Católica, mas sem abalar sua fé. Um exemplo é o tema da legalização das drogas, em que, quando discutido no Anchietanum, os jovens “levaram a discussão para o campo da saúde e das políticas públicas”. A alta da figura do Papa Francisco, com seus posicionamentos políticos mais abertos em relação ao histórico da Igreja é uma das influências para alguns dos que têm uma relação mais flexível com a doutrina, acredita a pesquisadora.

Ela também aponta um caso que a marcou: o de um jovem que era tímido em seus primeiros contatos no grupo religioso, “até que a vivência pastoral o levou de coordenador de grupo de jovens em sua paróquia à filiação partidária e disputa por cargos legislativos em nível federal”.

Porém, o grupo não era formado só por pessoas de alto engajamento político, o que não era empecilho para uma convivência harmoniosa. Rachel explica que o espaço do Anchietanum é tomado de um sentimento de união entre os integrantes, mesmo entre os que têm diferentes ideologias ou vêm de realidades de distintas classes sociais. 

O papel de centros religiosos

A pesquisadora aponta que qualquer espaço de socialização, seja religioso ou não, tem um alto impacto na vida da juventude, principalmente por estar em contato com pessoas que vivem um momento de muitas descobertas em diversos campos da vida. No caso do Brasil, o desmonte de políticas sociais voltadas para o jovem também influencia na importância de ações voltadas a esse público, acredita Rachel.

Sua pesquisa constatou que muitos jovens procuram centros religiosos para além da pura “relação com Deus”. Em entrevistas com 256 pessoas de 17 a 38 anos, dos quais quase 40% tinham entre 20 e 25 anos, as respostas mais frequentes, quando perguntados o que buscavam quando começaram a frequentar o Anchietanum, foram “outras experiências religiosas (25,82 %), autoconhecimento (22,7 %), ajuda para pensar no meu projeto de vida (14,64 %) e formação metodológica (14,14 %)”.

Mesmo em um país de maioria católica, no qual as influências religiosas advêm da infância, o início do relacionamento da maioria dos jovens com o centro não se deu por recomendação dos pais. Rachel explica que, com os jovens que trabalhou, a primeira relação com a religião veio majoritariamente de influência ou pressão familiar, mas a adesão ao Anchietanum quase sempre veio de forma “voluntária e, inclusive, como algo buscado ativamente”.

Rachel destaca que a família tem papel importante nos primeiros valores e costumes aprendidos por uma criança, mas o “como” essas questões “influenciarão a trajetória de cada sujeito é muito variável, dependendo de diversos fatores, como processos de socialização e individualização posteriores, mudanças estruturais e a reflexividade dos sujeitos”. Em sua pesquisa, ela observou experiências de pessoas que tomaram suas próprias interpretações sobre religião e valores, para além da aceitação passiva do que sempre foi ensinado por seus pais e pelas próprias instituições religiosas.

Para ler a pesquisa na íntegra, acesse este link.

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