Suco de laranja é potencial protetor contra câncer de mama e obesidade

Pesquisa investigou a influência da obesidade e do consumo de suco de laranja durante a gravidez na saúde dos filhos na vida adulta

O suco de laranja é o mais consumido no mundo, e além de ser muito nutritivo traz vários benefícios a longo prazo. Imagem: Reprodução/Pixabay

A obesidade e o câncer de mama são doenças preocupantes, já que causam várias mortes todos os anos. Estudos já indicaram que o desenvolvimento do bebê no útero pode afetar o surgimento de doenças como essas no futuro, e entender melhor esses efeitos pode ser um passo importante para preveni-las. Esse foi um dos objetivos da tese de doutorado “A obesidade materna durante a gestação e lactação e o consumo do suco de laranja: efeitos nos parâmetros metabólicos da prole masculina exposta a dieta controle e obesogênica e programação do risco do câncer de mama da prole feminina de camundongos”, defendida pela pesquisadora Natália Pinheiro de Castro na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, com orientação do Professor Thomas Prates e financiamento do Cepid/Fapesp.

A pesquisa analisou como a obesidade materna e o consumo de suco de laranja pelas mães na gestação e lactação afetam o desenvolvimento de obesidade e câncer de mama nas proles de camundongos. Esse modelo animal foi escolhido pois responde de maneira semelhante aos seres humanos a intervenções com dieta, além da estrutura da glândula mamária das fêmeas também ser muito parecida com a estrutura das glândulas mamárias humanas, o que permite fazer paralelos entre os resultados obtidos e as possíveis respostas nos seres humanos. Já o suco de laranja foi selecionado por já ter sido apontado em outros estudos como um potencial protetor contra o câncer de mama e por ser rico em compostos bioativos, substâncias que podem melhorar as condições metabólicas do organismo no geral, inclusive contendo efeitos negativos da obesidade. 

O estudo começou separando camundongos fêmeas recém desmamados em três grupos: um que se alimentou com uma dieta controle (equilibrada), um que consumiu uma dieta obesogênica (que induz obesidade) rica em gorduras e açúcar e um último grupo que, além de receber dieta obesogênica bebeu suco de laranja em substituição à água. Assim que foram observados sintomas de obesidade nas fêmeas alimentadas com a dieta obesogênica, todas as fêmeas foram acasaladas com machos que receberam dieta controle. Depois do desmame das proles, os “filhos” dessas fêmeas foram separados, dividindo o estudo em duas partes. A primeira parte, feita com as fêmeas, foi dedicada ao estudo do câncer de mama, e a segunda foi feita com os machos e estudou a obesidade.

As fêmeas das proles foram igualmente divididas em dois grupos. Metade delas foi eutanasiada na puberdade, para avaliação das TEBs (Terminal End Buds), estruturas terminais das glândulas mamárias onde começa a proliferação celular que origina o câncer de mama. A outra metade foi induzida a um processo de carcinogênese mamária, que estimula o surgimento de câncer de mama. A formação de tumores nos animais era acompanhada, e as fêmeas desse segundo grupo foram eutanasiadas três semanas após o aparecimento do primeiro tumor. Em ambos os grupos, foi observado que o suco de laranja teve um efeito protetor contra o câncer de mama. Isso porque, em comparação às descendentes de mães obesas que não beberam suco de laranja, as fêmeas cujas mães se alimentaram com o suco tinham menos TEBs, no caso do primeiro grupo, e, no caso do segundo grupo, seus tumores surgiam em menor quantidade e eram menores em peso e tamanho, por exemplo.

Os machos das três proles iniciais também foram divididos em dois grupos: um que recebeu dieta controle e outro que recebeu dieta obesogênica. No grupo que recebeu a dieta controle, o suco de laranja teve efeito protetor contra a obesidade. Isso porque os machos descendentes de fêmeas alimentadas apenas com dieta obesogênica apresentaram um perfil metabólico pior que os machos cujas mães tinham bebido suco de laranja. Eles tinham resistência à insulina e mais citocinas inflamatórias no tecido adiposo, por exemplo, fatores que podem desencadear doenças ligadas à obesidade no futuro.

O esquema ilustra os diferentes grupos de camundongos formados ao longo da pesquisa e os procedimentos realizados com cada um deles. Imagem: Natália Pinheiro de Castro

Já no caso dos machos alimentados com dieta obesogênica, o suco de laranja não trouxe benefícios. Além disso, esse grupo tinha um perfil metabólico três vezes pior que o primeiro. Para Natália, esse dado mostra o quão determinante é, para sua saúde, o ambiente ao qual o indivíduo está exposto: “Não adianta tomar suco de laranja se o ambiente que você está exposto é obesogênico, porque não vai ajudar. A dieta materna é importante e a intervenção com um alimento que seja rico em elementos bioativos pode ajudar, mas o ambiente é determinante”, explica a pesquisadora. Apesar de não trazer respostas definitivas, o estudo de Natália explora melhor os benefícios do suco de laranja, abrindo caminho para outras pesquisas e, talvez, novas formas de prevenção de doenças no futuro.

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