Estudo indica que poluição diminuiu com a pandemia de coronavírus

Dados preliminares de pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Química Atmosférica (GEQAt), do Instituto de Química da USP mostram a redução de materiais particulados na atmosfera

Imagem: Reprodução

O Grupo de Estudos em Química Atmosférica (GEQAt), do Instituto de Química (IQ), da Universidade de São Paulo (USP) está realizando amostragens de material particulado atmosférico para estudar a qualidade do ar durante o período de quarentena decretada em razão da pandemia do novo coronavírus. “A ideia foi comparar os poluentes na atmosfera na época da Covid com as outras épocas. Todo ano a gente faz amostragem”, explica a coordenadora do GEQAt, Pérola de Castro Vasconcellos. O estudo conta ainda com a participação de estudantes e pós-doutorandos orientados pela pesquisadora.

Os materiais particulados (MP) atmosféricos de 2,5 micrômetros são os que entram no pulmão. Os de tamanho de 1 micrômetro podem ir para os brônquios e os abaixo de 0,1 micrômetro podem ir parar no sangue. Os MPs são encontrados em metais pesados, pesticidas, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) gerados na queima de qualquer material orgânico, como por exemplo, queima de biomassa. Esses compostos são mutagênicos e foram identificados, também, no fenômeno da “chuva negra” causada pela fumaça de incêndios da Amazônia, em agosto de 2019. À época, teste realizado pelo IQ-USP identificou a presença de reteno, substância considerada um marcador de queimadas, pois é proveniente da queima de biomassa.  

 A coleta das amostras, pelo grupo de pesquisa, funciona com um filtro de fibra de quartzo que tem um amostrador, semelhante a um aspirador de pó convencional, onde o MP fica ali retido. Depois, o filtro é levado ao laboratório para ser analisado. “A ideia é identificar esses poluentes, principalmente esses HPAs, porque eles são mutagênicos e cancerígenos”, diz Pérola. A expectativa dos pesquisadores é a de que o índice de HPAs da análise na época da Covid seja menor, em razão do lockdown.

Em dados observados na China, um dos países mais poluídos, houve um decréscimo nos níveis de poluição de cerca de 30%. Trata-se de um dado importante, pois o País queima bastante carvão. No Brasil, observou-se redução dos níveis de dióxido de carbono e de dióxido de nitrogênio em amostras coletadas no Rio de Janeiro. No Ceará foi constatada redução em mais de 50% dos níveis de ozônio, encontrado na faixa de ar mais próxima do solo, onde respiramos, também chamado de “mau ozônio”, o gás é tóxico. “As pesquisas mostraram, ano passado, que partes do vírus ficam no MP atmosférico. As cidades mais poluídas transmitem mais a Covid”, relata Pérola Vasconcellos. 

Em função da pandemia e das restrições impostas, a pesquisa ainda não avançou muito, mas dados preliminares mostram a redução de MP na atmosfera. “A concentração de material particulado 2,5 (MP2,5) é em torno de 35 mcg por metro cúbico de ar, em períodos normais. No mesmo período, em 2020, o resultado foi de 17 mcg por metro cúbico. Ou seja, foi a metade do que a gente encontra em outras épocas do ano”, diz a cientista. 

Quando a situação da pandemia na cidade de São Paulo estiver melhor controlada e o acesso aos laboratórios do IQ-USP estiverem disponíveis sem restrições, a pesquisadora Pérola Vasconcellos espera que por volta de seis meses novos resultados sejam divulgados. “Os dados ainda são poucos, mas já mostram a metade da poluição com relação aos outros anos. E a gente ainda irá determinar os outros poluentes, como os íons, os metais”, conta.

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