Modelo animal de infecção para Covid-19 pode ajudar a entender infecção

Foto: Emin Baycan - Unsplash

Apesar de meses de esforços em todos os sentidos para compreender a infecção pelo novo Coronavírus, pouco se sabe com certeza sobre seu comportamento. No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, um grupo de cientistas busca estabelecer um modelo animal de infecção e doença por SARS-CoV-2. Uma vez estabelecido, esse modelo poderá ser utilizado em estudos futuros sobre vacinas, tratamento e patogênese.

Modelos animais geralmente são obtidos através da realização de experimentos com animais não-humanos vivos de forma que haja alguma equivalência taxonômica entre a forma como reagem a uma doença ou tratamento em teste e a forma como um ser humano reagiria. A partir desses experimentos entende-se melhor como funciona uma doença e que tipo de reações ela pode gerar em um organismo.

No caso da Covid-19, existe uma série de dificuldades no estabelecimento de um modelo animal. Como o SARS-CoV-2 é um microorganismo de biocontenção de nível 3, sua manipulação requer condições especiais em laboratório. Devem ser usadas cabines de segurança biológica e equipamentos de proteção individual, além de um layout específico de organização. Todas as operações têm de ser mantidas sob controle rígido, a inspeção e manutenção das instalações e equipamentos deve ser garantida. Além disso, todo o pessoal técnico envolvido deve passar por treinamento específico em procedimentos de segurança antes da realização dos experimentos.

Dadas essas necessidades, os laboratórios escolhidos para a realização dos testes foram o NB3+, do departamento de Microbiologia do ICB, coordenado pela professora Ana Márcia de Sá Guimarães e pelo professor Edison Durigon, e o NB3 do departamento de Parasitologia também nas Ciências Biomédicas, coordenado pelos professores Carsten Wrenger e Andrea Fogaça.

Outra dificuldade está no fato de que o SARS-CoV-2 não infecta camundongos comuns. Segundo a professora Ana Márcia, com base em pesquisas anteriores com o SARS-CoV-1 e resultados obtidos por pesquisadores em outros países, a espécie mais promissora para o experimento, devido ao seu pequeno porte e fácil manipulação, é o hamster. “Avaliamos alguns marcadores imunológicos de antemão, uma vez que, diferente de camundongos, não existem muitos reagentes disponíveis para pesquisa com hamsters, e temos avaliado marcadores de outras espécies que possam reagir cruzado”, explica a professora Ana Márcia.

O projeto conta com especialistas de diversas áreas, da biossegurança à manipulação do hamster, incluindo especialistas em virologia, imunologia, medicina veterinária e patologia. Além de pesquisadores do ICB da USP, dos departamentos de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, também estão envolvidos especialistas do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) e do Departamento de Patologia Animal (VPT) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnologia da Universidade de São Paulo.

O grupo pretende utilizar o SARS-CoV-2 isolado no Brasil pela equipe de laboratório supervisionada pelo professor Edison Durigon em uma inoculação nasal nos animais. “A partir daí, os hamsters serão acompanhados por parâmetros clínicos, hematológicos, imunológicos, anatomopatológicos e por carga viral. Essa avaliação permitirá o estabelecimento de endpoints que poderão ser utilizados nos ensaios com candidatos vacinais.”

Até o momento, os protocolos de biossegurança foram todos estabelecidos, incluindo o treinamento de pessoal. Os experimentos foram iniciados recentemente, mas ainda é cedo para conclusões. Os cientistas esperam que até o fim do ano haja um modelo padronizado, mas isso dependerá de todos os fatores que interferem no processo de testes. O que se sabe até o momento é que os hamsters são infectados com sucesso pelo SARS-CoV-2.

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