Há alguns anos um estudo mostrou que a fagocitose, processo de ingestão e destruição de partículas, era estimulada pela produção de melatonina (hormônio do escuro) realizada pelos macrófagos, célula de defesa do organismo e que atua no sistema imunológico. A pesquisadora Regina P. Markus explica que a partir do momento em que acontece o primeiro contato com uma partícula estranha é desencadeado um processo que induz a síntese de várias moléculas. A seguir este conjunto de moléculas promove a entrada da partícula – que pode ser o vírus – para dentro do macrófago e, a partir disso, o macrófago que “engoliu” a partícula pode ter duas reações. A primeira muito agressiva, liberando compostos que podem levar à morte ou desativação do agente agressor, mas ao mesmo tempo fazer um estrago no tecido à sua volta. No segundo caso, desativar o agente agressor dentro do macrófago, impedindo que sua presença seja notada para o resto do organismo. Uma molécula chave para que o macrófago entre neste estado resiliente é a melatonina, mais conhecida como hormônio do escuro, e que é sintetizada por macrófagos quando “desafiados”.
Com o decorrer do estudo, foi realizado um mapeamento com undivíduos saudáveis e indivíduos com câncer — cujo estudos já apontaram que possuem uma menor quantidade de melatonina no organismo — para verificar a viabilidade de contaminação pelo vírus. Foi-se descoberto que nos indivíduos com câncer, a rota para o vírus estava facilitada, enquanto nos indivíduos saudáveis existiam dois grupos: aquele com as rotas dificultadas e aquele em que a rota era facilitada. Em uma das fases do projeto, a melatonina foi medida nos indivíduos saudáveis a fim de separá-los em grupos que seriam capazes de evitar que ocorram uma montagem inflamatória e também pudessem realizar a eliminação de microrganismo por meio de secreções, como o escarro. Dessa forma, enxergando as individualidades, foi possível identificar aqueles que são susceptíveis daqueles que são resistentes e assim facilitar o processo de prevenção.
Markus ressalta que para realização desse processo foi-se necessário o apoio de uma grande equipe: “O trabalho enviado para publicação “Melatonin-Index (Mel-Index) – a new approach for predicting the evolution of healthy SARS-CoV-2 carriers” ou, em tradução livre “Índice de melatonina (Índice de Mel) – uma nova abordagem para prever a evolução de portadores de SARS-CoV-2 saudáveis”– cujo primeiro autor é o pesquisador Pedro Fernandes, contou com a colaboração de mais 13 pesquisadores, entre os quais o professor Marcos S Buckeridge do LAFIECO, IB e sua equipe, responsáveis pela análise de rede, professor Helder I Nakaya e equipe da FCF-USP que disponibilizou dados de pacientes de Covid-19 para a montagem da assinatura Covid-19 e da doutora Gabriela S Kinker que elaborou as análises unindo a assinatura Covid-19 ao Mel-Index, atualmente é pós-doutoranda no A.C. Camargo Cancer Center, SP.”
É importante ressaltar também, que esse estudo apenas existe por conta de um trabalho já realizado. O foco do laboratório é o estudo de melatonina nos processos de defesa do organismo. Sendo assim, um estudo realizado por eles já havia percebido que, quando a poluição do ar entra em contado com os macrófagos alveolares, eles sintetizam melatonina que é capaz de aumentar o processo de fagocitose dessas partículas de poluição e expelindo-a em forma de escarro. Regina completa: “Portanto, esta foi a nossa porta de entrada para imaginar que, se o vírus ficasse retido nos macrófagos alveolares, este seria expelido na forma de aerossol – e aquela pessoa seria um portador são.”
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