Durante o I Fórum Virtual de Saúde Bucal da RRAS (Rede Regional de Atenção à Saúde 4), no YouTube, a professora Letícia Yumi Arima apresentou alternativas que a odontologia tem encontrado para o tratamento de cáries em tempos de coronavírus, buscando minimizar risco de contaminação.
Com doutorado em odontopediatria pela FOUSP, a especialista relata que muito tem sido discutido sobre novos protocolos odontológicos durante a pandemia, especialmente porque a área envolve o contato constante com secreções e aerossóis.
O aerossol é a suspensão de partículas muito finas, sejam sólidas ou líquidas, num gás muito mais leve que uma gotícula, por exemplo, que logo cai no chão. Tradicionalmente, o dia a dia de um consultório de dentista envolve o uso de ferramentas e aparelhos como a alta rotação, o ultrassom, jateadores e a seringa tríplice, que dissipam o aerossol, que pode ficar no ar durante várias horas.
Portanto, para evitar a insegurança quanto à covid-19, tanto de pacientes quanto dos médicos, a estratégia para tratar de cáries no momento é utilizar métodos que emitem pouco ou nenhum aerossol, explica a professora.
Assim, a Odontologia de Mínima Intervenção, que foca em medidas preventivas e preservação da estrutura dentária do paciente, ganha força no momento atual.
Alimentação é o primeiro passo
A cárie é a deterioração de um dente. Ela é causada pela ação das bactérias Streptococcus mutans, que se acumulam no que é chamado de placa (ou biofilme), buscando consumir a sacarose, açúcar que fica na boca vindo dos restos de alimento. Nesse processo, essas bactérias produzem um ácido com poder de corroer os minerais do dente até quebrá-lo.
O surgimento da doença é fortemente influenciado pela alimentação. E como enfatiza Arima, a mudança de hábitos alimentares motivada pela pandemia — que trouxe uma tendência no aumento de consumo de alimentos ultraprocessados, como descreveu o jornal The New York Times — aumentou consideravelmente os riscos de cárie.
Por isso, para o tratamento de lesões iniciais, mais leves, a professora conta que o primeiro passo do dentista é orientar o paciente sobre o controle de dieta alimentar e reforço de higiene bucal adequada. Evitar bebidas industrializadas, “beliscos” entre as refeições, alto consumo de açúcar e de alimentos pegajosos e ácidos estão entre as orientações.
Ela ainda afirma que seis ou mais ingestões diárias de sacarose já causam desmineralização do esmalte dentário, mesmo que a pessoa em questão faça três ou mais escovações com pasta no dia. Outros cuidados devem se voltar à placa visível, algum índice de sangramento gengival, presença de tártaro e uso de aparelho odontológico fixo.
Ainda em lesões iniciais, os passos seguintes são a aplicação de verniz, que adere ao esmalte do dente e atua como uma reserva de flúor que se dissolve aos poucos; o selante ionomérico, que cria uma barreira impedindo o contato do biofilme das bactérias com a superfície dentária; a barreira fotopolimerizável, que tem função semelhante, mas é formado por um substância que endurece ao ser exposta à luz azul (através do chamado aparelho fotopolimerizador); e o infiltrante resinoso, que preenche e repara o esmalte desmineralizado do dente, sem danificar sua estrutura.
Lesões moderadas e severas
Já em casos de lesões moderadas, além do selante resinoso, a professora indica o uso do cimento de ionômero de vidro, que sela cavidades provisoriamente, paralisando o processo de cárie.
Em situações mais graves, sendo elas sem dor, inflamação irreversível da pulpa dentária (pulpite), nem infecção ou exposição dela, Arima também recomenda o cimento de ionômero de vidro. Além dele, o diamino fluoreto de prata, que é bactericida e promove a remineralização das lesões de cárie ativas; e coroas de aço, que cobrem o dente danificado e lhe dão maior resistência.
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