Pessoas com Doença de Parkinson são grupo vulnerável às consequências do isolamento social, aponta estudo

De acordo com a pesquisa, pessoas com Parkinson apresentaram uma grave piora na qualidade de vida e nas alterações motoras e não motoras da doença por conta da pandemia e da falta de serviços de atendimento

Idoso com máscara [Fonte: GettyImages]

Desde abril de 2020, a professora Maria Elisa Pimentel Piemonte do departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo coordena um estudo sobre o impacto do distanciamento físico na qualidade de vida de pessoas vivendo com a doença de Parkinson. O projeto atua em 14 cidades pelas diferentes regiões do Brasil e conta com 478 pacientes distribuídos em todos os centros. Nas semanas do estudo, foi identificado uma piora significativa na qualidade de vida das pessoas com Parkinson e nas alterações motoras e não motoras da doença, indicando que essa população de fato foi vulnerável ao distanciamento. Além disso, quase a totalidade dos pacientes está até o momento sem acesso aos serviços de atendimento.  

A doença de Parkinson é uma doença neurológica, crônica e progressiva do sistema nervoso central. Além de comprometer os movimentos, a doença pode levar a distúrbios da fala, depressão, problemas urinários e intestinais. Por conta disso, o tratamento envolve uma série de cuidados com o acompanhamento de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos. Em decorrência do isolamento social, toda essa estrutura de atendimento foi prejudicada. 

Para compreender as consequências da interrupção dos serviços, da redução da atividade física, do estresse emocional e do isolamento nessas pessoas, foram realizadas entrevistas após as primeiras sete semanas do isolamento social e depois de 14 semanas, com o prolongamento da pandemia.

 Em relação à prática de atividade física, os pacientes foram divididos em dois grupos: os que mantiveram de forma autônoma as atividades, com orientações dos centros de atendimento que participam ou com o auxílio da internet; e os que interromperam toda a atividade física por conta da pandemia. 

A pesquisadora aponta que o grupo que “manteve alguma atividade física, mesmo que de forma autônoma”, percebeu o impacto da pandemia de uma forma “menos severa e grave do que o grupo que interrompeu todas as atividades físicas”.

A saúde mental das pessoas com a doença de Parkinson foi outro ponto considerado nas entrevistas, que apresentava uma subseção de perguntas especificamente em relação às alterações de humor e de saúde mental desde o início da pandemia. Segundo a professora, “as pessoas relataram estar mais ansiosas, mais deprimidas e mais irritadas ao se compararem com o período anterior ao isolamento”.

O estudo também identificou um impacto semelhante entre as pessoas de diferentes classes sociais, mas diferente entre as regiões do país. De acordo com Piemonte, isso pode indicar que o contexto e a vulnerabilidade social da região está impactando as pessoas de forma mais intensa do que as diferenças socioeconômicas entre os pacientes. E acontece de forma independente, “não está correlacionada com o nível individual de estresse das pessoas, não há diferença no tempo de distanciamento, é um dado relacionado a uma vulnerabilidade social que não é individual, é coletiva, da região”, afirma a professora. No contexto da análise, os pacientes da região Norte do país apresentaram maiores problemas por conta da pandemia. 

Atuação da Rede Amparo

Além da pesquisa, a professora Maria Elisa coordena a Rede Amparo, um projeto vinculado ao Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (CEPID NeuroMat) que atua em diversas frentes na promoção da melhora de qualidade de vida das pessoas com Doença de Parkinson no Brasil e de seus familiares. Com os primeiros resultados do estudo, a necessidade de uma intervenção durante o período da pandemia para minimizar a falta dos cuidados que estavam sendo oferecidos antes impulsionou a criação da campanha Fique em Casa, mas não fique parado pela Rede Amparo. 

Foram feitas 25 transmissões ao vivo com cerca de 4 a 5 exercícios, tanto para pessoas menos acometidas pela doença, ou seja, com menos dificuldades motoras, quanto para pessoas com mais dificuldades motoras. “Fizemos as transmissões durante cinco semanas, estimulando que as pessoas tivessem primeiro um estímulo para começar a se exercitar e uma orientação confiável, segura e especializada para isso”. 

Além disso, um programa de 50 exercícios em PDF é disponibilizado por e-mail e em versão menor, pelo whatsapp. São feitas também uma série de palestras em todas as áreas relacionadas a doença de Parkinson, buscando, dessa forma, “disponibilizar a essas pessoas não só educação, mas orientações bastante objetivas para que seja possível enfrentar esse período de isolamento físico”. 

Todo o material pode ser encontrado no site da Rede Amparo, que completou 4 anos de atuação no mês de outubro do ano passado.

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