As facilities podem ser compreendidas como um conjunto de serviços e valores que auxilia e facilita alguma ação, com o objetivo de otimizar o trabalho dos contratantes deste serviço terceirizado. Uma novidade no mundo acadêmico, elas foram estudadas pela professora Fernanda da Silveira Joia em sua dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. Para isso, tomou-se como base a Facility FMVZ/USP — centrada no laboratório multiusuário do prédio da Anatomia, reunindo cinco microscópios — que revelou grande importância e potencial beneficiador.
Fernanda conta que as facilities sempre foram mais comuns no mundo corporativo e começaram a surgir no meio acadêmico sem muita orientação, levadas pela necessidade. “Muitos profissionais não trabalham com gestão, liderança e administração, mas, mesmo assim, precisam aplicar isso no seu dia a dia, ainda que sejam veterinários ou zootecnistas”. Seu surgimento integra-se ao conceito de redes colaborativas de pesquisa, principalmente voltadas para serviços laboratoriais que envolvam centrais multiusuários. É o caso da criação do Centro Avançado em Diagnóstico por Imagem (Cadi): uma plataforma de equipamentos multiusuários da Central de Facilidades à Pesquisa da FMVZ para auxílio tanto da pesquisa científica quanto do atendimento a outros públicos.
Ao todo, o Cadi é composto por 14 equipamentos de imagem, sendo cinco microscópios agrupados em um único laboratório multiusuário do prédio da Anatomia. Todos foram adquiridos através de diferentes projetos financiados por agências de fomento ao longo de 20 anos. A professora explica que, com a existência de um espaço como esse, o pesquisador pode focar em seu objetivo principal, deixando de lado questões como alto custo da aquisição das máquinas, manutenção e manuseio. “Com isso você dá acesso a pessoas que teriam a compra do equipamento de pesquisa negada, além de proporcionar maior difusão de conhecimento entre aqueles que utilizam esse mesmo ambiente.”
Para realizar análise e avaliação da gestão da Facility, Fernanda aplicou uma pesquisa de opinião para os usuários — disponibilizada online no sistema Cadi. No total, 42 usuários responderam o questionário e os resultados deixaram claro a tamanha importância da plataforma para produção científica da unidade.
Universidade, mundo corporativo e cortes governamentais
Apesar de considerar a Facility um sucesso, com grande maioria dos usuários reconhecendo a importância de sua existência, Fernanda diz que se surpreendeu negativamente com a ausência de usuários de fora da Universidade. “Era esperado que houvesse participação de estudantes além da USP, utilizando aquela Facility. Acredito que a grande questão seja uma falta de divulgação e abertura no tópico da extensão, onde a Universidade se junta com a sociedade.”
Além disso, Fernanda também acredita na ligação entre o mundo acadêmico e corporativo. “É muito importante que eles andem juntos ou todas as descobertas científicas ficam no meio acadêmico e não voltam para a sociedade. Quando há essa junção pode-se ter grandes empresas utilizando e investindo nas facilities, o que faz o dinheiro girar dentro da própria instituição.”
Dentro do cenário de cortes de recursos e bolsas das universidades públicas, a professora vê nas facilities uma forma de reduzir os custos e gerar pesquisas de grande influência. “Além da redução de custos de ter aparelhos compartilhados em um mesmo lugar, gera-se pesquisas de maior impacto, o que traz a percepção de benefício. Uma sociedade que não percebe uma beneficiação é menos sensibilizada pelos cortes educacionais.”
Ela explica que é notável o aumento das pesquisas de grande impacto mediante ao aproveitamento da facility. Em dois anos, a utilização do Cadi já proporcionou 40 artigos científicos publicados em revistas renomadas, 54 projetos de pesquisa e atendimento de 25 grupos de estudo. “Quando se tem um aglomerado de pesquisadores alocados no mesmo local, isso gera um compartilhamento que traz inúmeros benefícios porque ninguém é mais inteligente que um grupo de pessoas reunidas.”
Por fim, Fernanda aponta a necessidade da gestão de espaço para possibilitar que o local passe a auxiliar a rentabilidade da organização, incluindo uma solução para recebimentos de usuários de fora da USP. Além disso, ela deseja a existência de uma futura Faciliy USP — que integrasse todas as unidades. “Foi interessante ver quanto a Facility FMVZ tem de potencial crescimento, mas a questão é: porque ela precisa ficar apenas ali? Se já há uma facility de sucesso, deve-se pensar nos próximos passos de planejamento estratégico a fim de criar uma unidade central”, conclui.
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