Perfuração de rochas auxilia na pesquisa sobre biodiversidade da Amazônia

Análises de sedimentos de até 65 milhões de anos buscam história natural da região

Região do Rio Xingu no leste da Amazônia, um dos locais onde ocorrerão as perfurações do Trans-Amazon Drilling Project. (Imagem: professor Leandro Sousa/UFPA)

Em busca das origens da paisagem e da biodiversidade da Amazônia, um projeto do qual faz parte Instituto de Geociências (IGc) da USP, em associação a outros institutos de pesquisa do Brasil e internacionais, está organizando uma série de perfurações na região, com o intuito de obter amostras de sedimentos e rochas que podem trazer informações da vida na Amazônia há milhões de anos. O “Trans-Amazon Drilling Project: origin and evolution of the forests, climate and hydrology of the South American tropics”, como foi nomeado em inglês, tem como objetivo unir diversas áreas do conhecimento em busca de descobrir os motivos por trás da grande diversidade de espécies da região amazônica.

O professor do IGc, e um dos coordenadores do projeto André Sawakuchi, explica seu objetivo: “Estes sedimentos podem nos contar sobre as mudanças na paisagem, no clima e nas florestas da região ao longo de milhões de anos, como um arquivo da história natural”. Os estratos de onde as amostras serão coletadas chegam até mais de 65 milhões de anos, e virão de três regiões diferentes ao longo dos rios Juruá, Solimões e Amazonas, respectivamente nos estados do Acre, Amazonas e Pará. “Essas amostras serão divididas entre diversos pesquisadores que vão estudar aspectos diferentes, tentando compreender a influência da paisagem física, como o clima e o relevo, influenciou a imensa diversidade de espécies nesta região”.

Segundo o professor, existe um grande debate sobre o porquê de a Amazônia ser a floresta mais diversa do mundo: “Há teorias que dizem que é devido ao tamanho, outras atribuem isso à idade da floresta, há ainda teorias que afirmam que é por causa de mudanças no ambiente, como por exemplo a formação de grandes rios que servem de barreiras naturais à migração de espécies”.

Para tal, Sawakuchi explica que “serão realizadas perfurações profundas que permitem a extração de amostras cilíndricas contínuas, ou testemunhos, com sonda de perfuração para exploração de petróleo”. “Os locais das perfurações são justamente onde a Petrobras perfurou nos anos de 1970 e 1980 para procurar petróleo e gás natural. Nestas localidades, sabemos que estão as rochas sedimentares que nos interessam”, conta. Essas rochas, segundo o pesquisador, são formadas por sedimentos carregados pelos rios da região. “Esses sedimentos se acumulam em depressões e representam detritos, como pólens das antigas florestas e minerais das rochas exumadas em montanhas que podemos usar para analisar as mudanças que ocorreram no ambiente”, explica.

O professor conta que a análise dos estratos irá revelar mudanças em aspectos como clima e vegetação, além da extensão e sentido do curso do Rio Amazonas e seus afluentes, fatores que podem ter levado à diversificação das espécie ao longo do tempo. Segundo Sawakuchi, “essas mudanças podem ter gerado barreiras para a migração de animais e plantas e contribuído para a diversificação das espécies”. “Na Amazônia, há espécies de aves e macacos que só ocorrem de um lado do Rio, por exemplo. Essas barreiras físicas podem estar ligadas ao surgimento de novas espécies”, diz o pesquisador.

Comentando sobre o projeto, o pesquisador declara que este “é uma iniciativa de pesquisa de grande porte”. “As perfurações no Acre podem chegar até 1800 metros de profundidade. Isso gera toneladas de material para ser transportado e milhares de amostras para serem analisadas”, conta. Para o professor, aí está a importância do caráter colaborativo do projeto: “Outras universidades, como a Universidade de Minnesota, dispõem de infraestrutura para armazenamento e curadoria dos testemunhos de sedimento e rocha. São pesquisadores de instituições de 13 países todos com o objetivo de compreender melhor a Amazônia”.

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