Acelerador de partículas avalia efeito de raios cósmicos em componentes de satélites

Professor Nemitala Added supervisiona o processo de transporte do feixe de íons energizados pelo acelerador de partículas [Imagem: Cecília Bastos/USP Imagens]

Produzir uma tecnologia nacional capaz de medir efeitos radioativos em dispositivos eletrônicos de satélites: essa é a proposta do Projeto Citar (Circuitos Integrados Tolerantes à Radiação). O estudo é realizado pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), com apoio do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e financiamento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

Nilberto Medina, pesquisador do IF e um dos responsáveis pelos experimentos, explica que no espaço sideral há forte presença de radiação eletromagnética e partículas pesadas, que bombardeiam os aparelhos. A resistência dos componentes eletrônicos à radiação é o que define a longevidade dos satélites. “O limitante desses programas é exatamente esse: o satélite não é feito para durar eternamente. Se você erra na previsão de quão tolerantes os dispositivos que o integram — como resistores, processadores e cartões de memória — são aos raios cósmicos, você fica com um satélite prematuramente fora de serviço”, complementa Nemitala Added, também responsável pelo projeto

A tecnologia necessária para medir este tipo de efeito, assim como os componentes eletrônicos capazes de resistir à radiação, já estão no mercado, mas são importados e têm custo muito elevado. Por meio do Pelletron, o acelerador de partículas do IF-USP, o estudo pretende fornecer uma tecnologia nacional capaz de substituir as existentes. 

A pesquisa

Aceleradores de partículas são aparelhos que fornecem energia a feixes de partículas subatômicas — radioativas — carregadas eletricamente. Elas simulam as condições encontradas no espaço. “A vantagem do Pelletron é que é possível gerar vários tipos de feixes: prótons, íons pesados, oxigênio, silício. Cada um deles deixa uma energia diferente no dispositivo, e é exatamente essa energia que faz com que sejam diferentes os efeitos dos raios nos aparelhos”, afirma Medina. 

Tanque do Pelletron, acelerador de partículas do IF-USP usado nos estudos [Imagem: Cecília Bastos/USP Imagens]
O projeto começou a partir de testes que verificaram se o acelerador de partículas poderia avaliar efeitos da radiação em dispositivos eletrônicos usados em satélites. Foram realizadas tentativas com uma adaptação experimental de uma das câmeras do Pelletron, para fazer as medidas. “Fizemos o estudo de um transistor e vimos qual era a probabilidade de ele ter algum mal funcionamento”, conta Medina. 

Apesar de o experimento ainda não respeitar todas as normas propostas pelas agências espaciais europeia e norte-americana para esse tipo de avaliação, ele foi eficaz em seu propósito. Notaram, então, que era necessário fazer uma nova canalização no acelerador de partículas, projetada especificamente para aquele fim e adequada a todas as exigências. As técnicas de medidas foram desenvolvidas no mestrado do físico Vitor Aguiar, e as simulações, com a nova canalização completa, em seu doutorado.

Antes da nova canalização, uma avaliação como a estudada demorava horas para ser realizada, e seu grau de exatidão era muito baixo. Com a nova canalização, as medidas podem ser feitas em poucos minutos. A dissertação de mestrado de Saulo Alberton, pesquisador do Instituto, também avalia os efeitos da radiação em dispositivos analógicos. O objetivo dos estudos realizados no Pelletron, além das pesquisas espaciais, é que profissionais de outros centros possam usá-lo para verificar os efeitos da radiação em diversas ocasiões.

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