Sistema online de previsão marítima ajuda a entender fenômenos passados

Preamar permite ver previsões e eventos passados, como os do atípico verão de 2013 e 2014

Preamar dispõe condições marítimas de regiões estuarinas, como a de Santos e São Vicente. Imagem: Reprodução/ Preamar.

No verão dos anos de 2013 e 2014 o Brasil passou por um dos períodos mais críticos relacionados à questão climática. Com quase inexistência de chuvas, o verão foi marcado altas temperaturas provocadas por fenômenos atmosféricos. As causas desses fenômenos eram relativamente desconhecidas até recentemente, quando foi possível a análise de dados feita/ pelo sistema de Previsão e Análise do Mar (Preamar).

Elaborado e disponibilizado pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP, as análises do Preamar permitiram estudos sobre o verão de 2014. Naquele período, um sistema de ventos impediu a passagem de frentes frias, algo recorrente na primavera e no verão, porém agravado pelo fenômeno de bloqueio atmosférico mais intensificado.

“Sabendo disso, conseguimos estudar de fato como esse fenômeno atmosférico impactou a circulação dos ventos e os movimentos no mar, através da modelagem numérica que fizemos”, explica Danilo Augusto Silva. O uso do Preamar permitiu a utilização de um modelo em que as equações físicas do mar foram realizadas e descreviam as seguintes condições de estado do mar: velocidade, temperatura e correntes. 

Em seguida, essas equações foram transformadas em programas de computador, baseados em informações que os pesquisadores do IO alimentavam, como as dos ventos e a maré. Graças à essa modelagem numérica que possibilitou a previsão e a simulação de eventos passados, os pesquisadores conseguiram entender melhor o que ocorreu.

Danilo observou no verão de 2014, com a simulação de eventos passados, que os ventos da região sofreram mais mudanças. “Pegamos dados de vento, radiação solar, maré e da própria composição química, de temperatura e salinidade da água para modelarmos. Assim elaboramos um cenário que foi o verão de 2014.” 

Localizada dentro da plataforma continental paulista, Ubatuba fez parte das análises de Danilo Augusto Silva. Imagem: Wikimedia Commons.

As constatações

Uma das descobertas mais interessantes foi que durante esse período, houve um aumento das ressurgências costeiras. Isso acontece quando águas muito frias e cheias de nutrientes do fundo do mar alcançam a superfície da água, entrando em contato com a radiação solar. Quando isso ocorre, a produção primária se intensifica, porque aumenta a disponibilidade de nutrientes e luz solar, importantíssimos para o desenvolvimento dos fitoplânctons.

Apesar das ressurgências já serem características da plataforma estudada, a intensificação se deu em decorrência das condições anômalas do vento. “Outra coisa que observamos nesse período é que a radiação solar estava muito intensa e forte. Porque como não teve chuva, não teve formação de nuvens”, disse Danilo. “Essa ausência de nuvens permitiu que os raios solares chegassem direta e mais intensamente na região, modificando algumas condições, por exemplo, a temperatura da água que chegou a ser registrada com 30ºC.” 

Ao constatarem a ação da radiação solar, esta passou a ser objeto de estudo. “No decorrer do trabalho achávamos que o vento era a única coisa que ia afetar a circulação e as condições de estado do mar. Só que conforme fomos investigando, percebemos que ela [a radiação solar] teve um papel fundamental nisso”, afirma o pesquisador. 

Quando foi levada em conta a consideração da influência dos raios solares no cenário do verão de 2014 modelado, foi possível captar melhores resultados, principalmente com o uso de imagens de satélite e dados de temperatura. “Ficamos realmente muito empolgados, porque tínhamos nos dados e equações, basicamente tudo o que tinha ocorrido. Inclusive essa inesperada mudança de rumos com os raios solares”, aponta Danilo.

Recorte de tela para dados da plataforma continental do estado de São Paulo. Imagem: Reprodução/ Preamar.

Acesso público e gratuito

Lançada em maio de 2019, a ferramenta (ainda em fase experimental) possibilita ver as correntes de toda a plataforma do estado de São Paulo, além da elevação do nível do mar e informações específicas para a região de Santos/São Vicente e São Sebastião. “É uma ferramenta muito interessante, um produto que a USP tem para a sociedade”, comenta Silva. 

O sistema possui site próprio. Os responsáveis por sua disponibilização feita pelo IO-USP foram os professores Belmiro Castro e Marcelo Dottori. O Preamar foi criado e é mantido por Carine Costa e pelo técnico José Roberto Leite.

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