Formação de atletas no Brasil é precária

Clubes brasileiros não oferecem o apoio necessário a seus esportistas

Profissionais não têm o suporte necessário fora do ambiente de treinamento. Foto: Cecília Bastos / Imagens USP

A formação de um atleta é extremamente complexa, envolvendo desde o treinamento do esporte em si até aspectos como assessoria de carreira, planejamento e orientação profissional e assistência psicológica. Um estudo feito na Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE), pela pesquisadora Rosiane Alexandrino, mostrou que os clubes brasileiros formadores de atletas não possuem um programa sintetizado que os direcione e que, juntamente com uma cultura imediatista e má alocação dos recursos, resultam em deficiência na formação dos esportistas.

A pesquisa se baseou no modelo SPLISS, que estabelece nove pilares para o desenvolvimento esportivo, dentre eles a identificação de atletas e o suporte para seu crescimento, a partir dos quais foi elaborado um questionário. “No Brasil, os clubes são a referência de treinamento, já que nosso esporte escolar é muito fraco. Até temos uma base de esporte nas escolas, mas a gente sabe que é fraco”, explicou Rosiane.

A amostra analisada foi feita através da lista de clubes filiados, vinculados e em processo de filiação ao Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), que recebem verbas de leis de incentivo ao esporte para a formação de atletas. A pesquisadora entrou em contato com todas as 83 organizações que constavam no último relatório da organização de 2015 e relatou as dificuldades encontradas: “Foi muito difícil, porque a gente percebe uma distância muito grande entre prático e teórico na área do esporte, principalmente porque grande parte não faz as coisas com clareza, ainda mais quando recebe verba do governo”.

Dos 83 clubes amostrados, apenas 37 responderam e 17 efetivamente participaram da pesquisa, o que já demonstra de antemão o descaso com o problema. Além disso, três afirmaram não serem formadores de atletas quando, na verdade, recebem verba para tal. “Só dessa não-resposta percebi que não havia interesse, achei que, como ia dar um respaldo para os clubes, iria haver maior interesse”, disse Rosiane.

A análise foi feita observando os Fatores Críticos de Sucesso presentes no pilar 5 do modelo SPLISS, que envolve apoio financeiro, assessoria de carreira, estruturas de treinamento, preparação física, nutricionista, psicólogo, fisioterapia, medicina, fisiologia e técnico especialista. Além disso, a pesquisadora também questionou os clubes a respeito de suas principais dificuldades para desenvolver o esporte. “A gente sabe que o Brasil dispõe de dinheiro para isso. Em pesquisas que comparam vários países ficamos acima de outras nações que são muito mais bem-sucedidas que a gente, porque essa distribuição de dinheiro não é correta”, explicou a pesquisadora.

Outro ponto avaliado foi se os clubes possuíam um programa de desenvolvimento elaborado pensando no longo prazo. Rosiane disse acreditar que “não adianta você oferecer auxílio para o atleta de qualquer maneira aleatória, você tem que ter um programa que vai segui-lo de forma sistematizada”. O que pôde ser observado é que muito raramente havia algo estruturado, e que os esportistas utilizam apenas o clube para treinar e depois iam embora. 

As organizações estudadas demonstraram possuir bons centros de treinamento para seus atletas, tendo materiais e treinamento para competições adequados. Porém, ao analisar o acompanhamento médico, fisioterapia, psicólogo e nutricionista os resultados foram bem piores. Rosiane ainda destacou outro grande problema encontrado: “O que mais me chocou foi que nenhum tinha assessoria de carreira e com esse monte de escândalo de atleta que vemos por aí, isso fica ainda mais importante. Além disso, eles quase nunca planejam o que fazer depois que a carreira esportiva acabar”. Outros quesitos deficientes são a educação e a moradia do atleta, que ficam muito dependentes do investimento familiar.

A pesquisadora também comparou a formação de atletas no Brasil com exemplos de sucesso no exterior, analisando quais poderiam ser as principais formas de melhorar a situação do País. “O principal ponto que falta é a interação entre ciência e prática. A grande maioria dos países que analisei têm um centro de inteligência esportiva de universidades que apoiam a prática”, afirmou Rosiane. Ela ainda completou dizendo que “a gente não tem isso, pecamos muito nessa parte, acaba ficando muito afastado, e isso também é culpa das universidades que pecam em não dar o retorno para a sociedade”.

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