Um projeto temático apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP encontrou e patenteou quatro versões de uma enzima que pode ser utilizada como medicamento em casos de leucemia linfóide aguda (LLA), o câncer mais comum entre crianças.
As duas primeiras versões são consideradas biossimilares, pois são semelhantes às que já são comercializadas atualmente. Já as duas últimas, são chamadas de inovadoras, por trazerem novidades ao tratamento, com grande potencial de exportação se continuarem a ser desenvolvidas.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, entre 2018 e 2019, sejam diagnosticados cerca de 10 mil novos casos de LLA por ano, a maior parte deles ocorre em crianças. No entanto, os índices de remissão da doença chegam a até 90% quando tratados com asparaginase. A efetividade do tratamento se dá porque as células cancerígenas se alimentam do aminoácido asparagina, que a asparaginase degrada, e, diferente das células saudáveis, não são capazes de produzi-lo.
Em 2013, o único laboratório que comercializava asparaginase no Brasil anunciou a descontinuação do produto, com a geração de um alerta para o risco de desabastecimento e para a necessidade de que haja uma produção nacional do remédio, como explica o coordenador do projeto e professor da FCF Adalberto Pessoa Júnior: “Nós somos dependentes da importação de quase todos os medicamentos. Nosso projeto não é só uma questão de produzir asparaginase, é uma questão de desenvolver metodologia e mão de obra competente para produzir esse e outros remédios”.
A busca pela independência trouxe também a possibilidade de inovação: foram descobertas duas asparaginases potencialmente melhores do que as que existem no mercado hoje. A primeira é a chamada asparaginase com capa humanizada, que é uma enzima envolta em uma capa que “engana” o organismo, por ser composta por proteínas humanas. Assim, os anticorpos que atacariam a enzima, ao reconhecerem sua origem externa ao corpo, não o fazem e o medicamento pode ser administrado em doses menores, com menos efeitos colaterais.
A segunda é a asparaginase resistente à protease plasmática. Nesse caso, a asparaginase sofre menos a ação das enzimas no sangue que a degradariam, com diminuição da dose por conseguir circular no organismo por mais tempo.
Este projeto se iniciou em 2013 e tem previsão para acabar em 2019, porém há planos de continuar o trabalho desenvolvido pela equipe em um novo projeto temático apoiado pela FAPESP, que buscará a viabilização da produção industrial e comercialização das quatro enzimas patenteadas, inclusive prestando atenção a parte econômica do processo: “Queremos saber qual o preço de uma dose, vamos acompanhar o custo de cada etapa”, explica o professor Adalberto. Entretanto, ele já adianta: “As duas patentes inovadoras ainda devem demorar pelo menos 10 anos para serem aprovadas, porque não basta fazermos a produção, temos que fazer todos os testes clínicos”.
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