Verificar a paternidade de uma criança não é um procedimento simples. Geralmente, os testes são feitos comparando o DNA da criança com o da mãe e o do suposto pai. Para isso, é preciso de amostras dos três. Mas e quando o bebê ainda não nasceu? A dificuldade de se obter o material genético do feto é uma grande barreira e requer, na maioria dos casos, métodos invasivos, com o uso de agulhas e outros equipamentos para retirar amostras do líquido amniótico ou da placenta.
Um novo método, porém, consegue determinar a paternidade sem recorrer a técnicas invasivas — é o objeto de estudo de Jaqueline Wang em sua pesquisa de mestrado, “Determinação pré-natal não invasiva de paternidade utilizando micro-haplótipos”, realizada na USP a partir do programa de pós-graduação Interunidades em Bioinformática.
A técnica consiste na análise do DNA fetal livre — fragmentos do DNA da criança presentes no plasma sanguíneo da mãe. A partir de um simples exame, é possível ter acesso à amostra gênica do bebê, sem precisar recorrer a métodos invasivos, que possuem chances, mesmo que baixas, de causar danos ao feto e até interromper a gravidez. “Uma amostra de sangue é diferente porque de qualquer forma a mãe teria que fazer exames de sangue, e só é necessário aproveitar um pouco mais do material para fazer esse teste”, explica Jaqueline. A presença do DNA fetal aumenta com os estágios da gestação, e, por isso, o teste é realizável a partir da décima semana de gravidez.
Como funciona
Depois de coletado o material, é preciso identificar o DNA fetal livre (porque este é inseparável do materno) e comparar com o do suposto pai. O processo se baseia na análise dos chamados SNPs – Single Nucleotide Polymorphisms (Polimorfismo de nucleotídeo único, em inglês), que são variações na sequência do genoma. A pesquisadora explica que partes da sequência do DNA são padrão entre todos os indivíduos; porém, por mutações naturais, algumas bases nitrogenadas acabam sofrendo alterações.
Por serem únicas e diferentes da sequência, essas bases (as chamadas SNPs), funcionam como marcadores específicos de cada indivíduo. Comparar os SNPs de uma criança com o da mãe e o do suposto pai, então, permitiria verificar a paternidade, porque pessoas sem parentesco não compartilharão dos mesmos marcadores.
Mas é aí que entra a novidade na pesquisa de Wang. A pesquisa não analisa os SNPs individualmente, como outros métodos não-invasivos fazem, e sim os chamados micro-haplótipos: regiões de aproximadamente 200 pares de bases que contenham no mínimo dois SNPs. Assim, não é necessário analisar cada base procurando por marcadores para depois compará-los com os dos pais; basta identificar a região que estão presentes e compará-la.
Segundo a pesquisadora, o método é mais simples: “É muito mais difícil achar pessoas que tenham o mesmo conjunto de bases do que achar pessoas que possuem o mesmo SNP específico. Por isso, testes que levem em consideração apenas os SNPs precisam analisar muitas bases, para excluir todas as possibilidades”.
Apesar de não ser o primeiro teste de paternidade não invasivo durante a gestação, a pesquisa de Jaqueline é vantajosa porque simplifica um método relativamente complicado, trazendo não apenas vantagens laboratoriais como também econômicas, visto que observar o conjunto requer um processo mais barato do que analisar cada base individualmente.
Além disso, utiliza-se da tecnologia já disponível na área (equipamentos conhecidos como sequenciadores), não sendo necessário nenhum tipo de aparelho novo e específico.
Desenvolvido em 2017 em parceria com a empresa Genomic Engenharia Molecular, o teste utilizando micro-haplótipos já está sendo oferecido no mercado pela mesma marca.
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