O transtorno do pânico é considerado um dos maiores males do século atual. Ele é caracterizado por causar episódios recorrentes de medo, terror, desconforto ou apreensão intensa de forma inesperada. Além disso, durante o ataque de pânico, as pessoas costumam ter uma sensação de morte ou perigo iminente. No entanto, um estudo realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) deu mais alguns passos para o melhor entendimento dos mecanismos que causam esse transtorno de ansiedade e o funcionamento do cérebro durante as crises.
Pesquisas realizadas em roedores, durante o mestrado de Luiz Luciano Falconi-Sobrinho sob orientação do professor Norberto Cysne Coimbra, evidenciaram que as respostas comportamentais defensivas nesses animais em situações aversivas e nas pessoas são parecidas — apesar das sensações de medo característico do transtorno serem exclusivamente humanas.
Essa descoberta, por sua vez, aponta um caminho para desvendar um pouco mais sobre o funcionamento do cérebro durante as crises causadas pelo transtorno. “Modelos animais de medo e ansiedade vêm sendo utilizados para uma maior compreensão dos substratos neurais envolvidos na organização dos comportamentos defensivos do tipo ataques de pânico”, explica Luiz.
Assim, as respostas comportamentais estimuladas quimicamente no hipotálamo de roedores, região do cérebro envolvida na origem desse comportamento de defesa, funcionam como um modelo experimental de ataques de pânico. É como uma simulação do que, aparentemente, ocorre nos humanos durante essas crises de ansiedade.
O estudo publicado durante o mestrado de Luiz também sugeriu que regiões do córtex “pré-frontal” medial, bem como o córtex cingulado anterior (CCA), são responsáveis pela regulação desses comportamentos de defesa. Além disso, seriam essas as regiões responsáveis por uma resposta analgésica durante as reações relacionadas com o medo.
Além disso, os testes realizados em roedores podem representar também um avanço em relação ao desenvolvimento de novas abordagens farmacológicas. Ou seja, a pesquisa abre espaço para que estudos clínicos apontem possíveis remédios ou tratamentos para o transtorno.
“Por meio de microinjeções intra-encefálicas de drogas em roedores, observamos que a diminuição da atividade de vias glutamatérgicas que conectam o CCA com o hipotálamo atenuam tanto os comportamentos defensivos do tipo ataques de pânico, quanto a resposta analgésica que segue esses comportamentos de medo”, diz Luiz sobre os avanços que a pesquisa pode trazer.
Cada vez mais comum
Segundo Luiz, o transtorno do pânico é bastante recorrente na sociedade atual e, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, atinge de 0,1 a 3,0% da população mundial. Além disso, o transtorno pode afetar o dia a dia das pessoas de forma profunda, as impedindo de realizar tarefas comuns. “Há casos em que o indivíduo desenvolve agorafobia, o que o impossibilita de continuar a exercer suas atividades diárias e convívio social, resultando diretamente em uma má qualidade de vida”, explica Luiz.
O pesquisador apontou também que a dor é uma das queixas mais comuns de pacientes que procuram os serviços de saúde. “Durante minha vivência clínica, me deparei com indivíduos com as mais diferentes doenças que tinham como sintoma comum a dor. Muitos desses pacientes apresentavam um quadro clínico de dor claramente relacionado ao estado emocional”, diz.
Sendo assim, as dores podem ter diferentes causas e, nos últimos anos, as relacionadas às emoções como um fator crítico tem recebido bastante atenção — o que também incentivou Falconi-Sobrinho a ir mais afundo no tema e explorar linhas de pesquisa que contemplavam mecanismos de controle da dor e das emoções.
As pesquisas voltadas para o transtorno do pânico, bem como para as fobias que podem ser desenvolvidas a partir da patologia, são uma esperança para os pacientes que têm a sua qualidade de vida afetada pelas constantes crises de ansiedade e pelos ataques do pânico. “Nosso grupo tem contribuído para ampliar os conhecimentos atuais das bases morfológicas e neurofarmacológicas do comportamento defensivo que tem sido associado ao medo inato e condicionado, e dos processos de modulação da dor”, aponta.
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