Método montessoriano tem alta no número de adeptos no Brasil

Criado na metade do século XX, proposta educacional é ainda mais atual por formar cidadãos autônomos e conscientes de seu papel no mundo

Sala Montessoriana em Qingdao Amerasia International School - Natalie Choi. Fonte: Wikimedia Commons

Uma sala de aula limpa e organizada. Nela, encontram-se crianças de diferentes idades trabalhando individualmente com aquilo que mais lhes interessa no dia. Os professores não são responsáveis por guiar a atividade delas. Eles também não usam premiações como estímulo. No fim do dia, as crianças guardam suas atividades, despedem-se dos seus amigos e vão para casa. Essa é a rotina de uma escola montessoriana, método criado pela pedagoga italiana Maria Montessori e que vem se popularizando no Brasil há alguns anos.

O método é simples: permitir que a criança tenha autonomia e se sinta parte ativa e integrante do meio em que vive. Para isso, é necessário que se respeite o processo natural de desenvolvimento dela, estimulando-a de acordo com seus “períodos sensíveis”. De acordo com a professora da Faculdade de Educação da USP, Carlota Boto, o desenvolvimento do ser humano começa logo quando ele nasce e vai até os 24 anos. “O método é mais diretamente apropriado para as primeiras etapas de vida. Mas, enquanto filosofia, é possível pensar o método também nas fases subsequentes”, afirma.

(Arte: Bruna Diseró)

A autonomia e a autodisciplina são exercícios essenciais na disciplina de Montessori. A criança é livre para escolher a atividade na qual queira trabalhar no dia, podendo ficar com ela o tempo inteiro, ou seja, até o momento em que ela domine a proposta do exercício. A sala de aula também é construída para permitir a autonomia do aluno. Os móveis têm uma altura adequada, existem tapetes que convidam a criança a trabalhar no chão se assim quiser e, desde a sua entrada até sua saída, o aluno trabalha o tempo todo para manter a organização do espaço.

As atividades escolhidas pelos alunos estão inseridas na proposta pedagógica de Maria Montessori. Para Boto, os materiais elaborados pela pedagoga auxiliam no curso do aprendizado da criança que aprende, em um primeiro momento, a partir do concreto para depois alcançar a abstração. Suas características são o estímulo sensorial, a estética bem trabalhada que seduz o aluno, a adaptação à força e ao tamanho da criança e a possibilidade de autocorreção. Boto aponta uma crítica de Maria Montessori sobre o método tradicional de ensino que explica o porquê da construção desses materiais: “Ela entendia que a educação tradicional não explorava os ambientes educativos. E isso seria bom para a criança aprender”.

A professora destaca ainda dois materiais desenvolvidos por Montessori que podem ser usados em qualquer método de ensino que a escola opte por trabalhar: o material dourado e o material de alfabetização. “O primeiro é composto por cubos e blocos de madeira, representando as unidades, as dezenas e as centenas”, explica. “Já o material de alfabetização é composto por letras em superfícies rugosas e ásperas. A criança pode sentir com o tato o contorno da letra”, alfabetizando-se.

Segundo o mapa montessoriano feito pelo site Lar Montessori existem cerca de 35 escolas no Brasil que utilizam o método. A maioria delas se concentra na região Sul-Sudeste, principalmente no eixo Rio-São Paulo. A média de preços fica entre 1.300,00 a 2.000,00 na capital paulista, mas há mensalidades de menos de 700,00 para o ensino infantil em algumas escolas particulares que adotaram o método.  Contudo, não foi encontrada a quantidade de alunos brasileiros formados pelo método.

Mesmo assim, o método montessoriano conta com muitos alunos famosos pelo mundo. Os fundadores do Google e um dos fundadores do site de conteúdo Wikipedia, Jimmy Wales são exemplos no mundo digital, bem como o criador da Amazon, Jeffrey Bezos. Grandes nomes da cultura também foram alunos montessorianos. Entre eles, o prêmio Nobel Gabriel García Márquez, a estrela Beyoncé, Anne Frank e o ator inglês Alan Rickman. Até mesmo os príncipes britânicos, Harry e William, foram educados em escolas que utilizavam o método.

O método montessoriano não é uma unanimidade. Ele é alvo de uma série de críticas desde quando se espalhou pelo mundo em 1940. “Duas críticas que são feitas ao método montessoriano – ele é elitista e ele forma crianças egoístas”, conta Boto. A professora afirma que não é porque o Montessori é adotado em escolas de elite que ele é, necessariamente, elitista.

Já o egoísmo faz referência à autonomia do aluno tão defendida por Maria Montessori e base da sua proposta de educação. Essa autonomia é duplamente alvo de críticas, já que se questiona a autoridade do professor em sala de aula. Sonia Maria, presidente da Organização Montessori do Brasil (OMB) criada em 1996 a fim de fortalecer o método educacional no país, afirma que tais críticas são levianas: “Liberdade sem limites sociais não é educação. Nenhum professor perde sua autoridade se ela for baseada no exemplo moral”. Ela diz ainda que o professor é orientado a intervir quando o aluno estiver gerando alterações comportamentais no ambiente e que ele deve servir como espelho para as crianças.

Sonia confirma a popularidade que o sistema montessori atingiu no Brasil nesses últimos anos. Para ela, isso aconteceu porque ele atende às necessidades do novo ser humano preocupado com a consciência de seu papel no mundo e de sua responsabilidade para o equilíbrio social e físico do ambiente em que vive. “Não se pode mais pensar em uma educação apenas intelectual, os valores pessoais e relações interpessoais de qualidade estão nas pautas. O professor muda seu papel. De centralizador do conhecimento passa a ser um dinamizador, um provedor de condições para que o aluno busque as informações de que necessita”. E conclui: “Não há limite para a aprendizagem”.

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