O crescimento das cidades, do número de habitantes, dos veículos em circulação e dos variados tipos de construções são alguns dos fatores que contribuem com a mudança de regimes de chuvas, temperatura média de uma localidade e aumento dos níveis de poluição. Tendo como base esses elementos, o professor Edmilson de Freitas, do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), vem desenvolvendo ao longo dos anos diversos projetos de pesquisas que buscam entender as interações nos grandes centros urbanos, usando como ponto de partida a formação de ilhas de calor.
Um ambiente urbano, como a cidade de São Paulo, é uma área muito heterogênea e apresenta diversos elementos que podem influenciar a formação das ilhas de calor, o que tem impacto direto na temperatura local. Em comparação a regiões com menos construções, habitantes e veículos, grandes centros urbanos, geralmente, apresentam temperaturas mais elevadas.
Isso porque durante o dia todo, as edificações recebem radiação solar que é refletida nas mais diversas direções. Com isso, as construções armazenam energia recebida pela radiação e vão, aos poucos, soltando-a em forma de calor. Por isso, à noite, é possível sentir paredes e calçadas ainda quentes.
A grande questão das ilhas de calor não está relacionada somente ao aquecimento de construções e da intensa circulação diária de pessoas e veículos. O problema reside no fato de que a estrutura das cidades não permite a circulação de ar.
Edmilson explica que “esse aquecimento gera movimentação de ar que permite a recirculação. Resultado: os poluentes que podem estar sendo emitidos naquela região são levados para cima, depois retornam e continuam em um lugar que já tem emissão.” Dessa forma, quanto mais se afasta do centro, maior a influência do vento que traz o ar frio para dentro da cidade e leva o quente para outras regiões.
Mesmo dentro da mesma cidade é possível perceber diferenças de temperatura. O professor explica que existem bairros de São Paulo muito mais quentes do que outros, devido à estrutura. Em alguns locais, não há circulação de ar e nem troca de calor, sendo que onde há muitas barreiras, o ar frio que vem do oceano não consegue penetrar.
Essas observações são baseadas em diversos parâmetros e um deles é conhecido como fator de visão do céu, feito com auxílio de uma lente olho de peixe instalada em uma câmera fotográfica. O professor afirma que com ele é possível determinar quanto de radiação chega a um certo ponto. “O quanto se vê do céu, significa o quanto de radiação está chegando naquele lugar. Então, quanto mais se vê, maior a incidência de radiação solar”, explica. Levando em conta esse modelo, é possível concluir que em um lugar onde há alta visibilidade do céu, a radiação solar recebida será maior, mas o aprisionamento do calor e a reflexão serão menores.
Conforto térmico
As pesquisas também investigam como as diversas ocupações urbanas causam efeitos diferentes nas pessoas. Uma das alunas de doutorado envolvida no projeto analisou quatro regiões diferentes da cidade de São Paulo e percebeu que em cada uma o conforto térmico varia e que isso pode estar ligado à área vegetada.
Diversas pesquisas são feitas com o intuito de encontrar maneiras de diminuir a temperatura dos centros urbanos e, consequentemente, aumentar o número de áreas que oferecem maior conforto térmico à população. Edmilson relembra que há algum tempo existia a ideia de implantar telhados brancos. “A superfície branca reflete radiação que bate em um ponto, volta para o espaço e não aquece tanto. Mas, as superfícies não são lisas e a reflexão não vai ser como a de um espelho, ela vai refletir para todos os lados”, afirma. “Então, a radiação vai atingir pessoas, o que acaba sendo um problema de saúde sério.” O pesquisador explica também que essa seria uma solução inviável, pela impossibilidade de se manter os telhados brancos por muito tempo sem a necessidade de retocar a pintura, devido à grande quantidade de poluentes.
Por conta dessas dificuldades, a outra solução encontrada foi aumentar as áreas arborizadas. O professor afirma que plantar 25% a mais de árvores pela cidade seria o suficiente para diminuir a temperatura em 2,5 a 3 graus, o mesmo efeito gerado pela implantação de telhados brancos.
Perspectivas
A população dos centros urbanos está em constante crescimento e São Paulo é um exemplo claro desse fenômeno. O aumento da população, entretanto, “significa que a cidade ficará maior e todos aqueles problemas serão intensificados”, lembra o professor.
É nesse cenário que se torna importante pensar na governança ambiental das cidades, ou seja, como os recursos disponíveis são gerenciados. “Isso tem ligação com a nossa relação com o meio ambiente, tem a ver com sustentabilidade, com demanda por alimento e por água. Uma boa governança ambiental seria você utilizar os recursos para sobreviver sem comprometer as gerações futuras”, diz o coordenador do projeto.
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