Ao falarmos de tecnologia agrícola, a primeira imagem que vem à mente são grandes tratores e colheitadeiras. Dificilmente alguém foge desse pensamento. Porém, algumas técnicas que, por vezes, passam despercebidas podem ter tanta importância quanto o maquinário, ou até mais. São as aplicações de técnicas da biologia no agronegócio. Esses procedimentos utilizam da ciência e da própria natureza para melhorarem a produtividade, evitarem perdas e diminuírem as infecções por doenças e pragas.
A polêmica dos transgênicos
Um exemplo dessa biotecnologia são os organismos transgênicos. Depois de muitos debates dentro da comunidade científica, testes e aplicações, foram liberados no mercado organismos que possuem partes de DNA incorporadas ao seu material genético, para lhes conferir características adicionais.
A pesquisadora do Instituto de Biociências da USP, Magdalena Rossi, afirma que eles podem ter vários usos, como a resistência a doenças e o aumento da qualidade nutricional e da produtividade. “Isso é muito interessante porque a agricultura extensiva utiliza toneladas de pesticidas e herbicidas, substâncias que são muito tóxicas, e, quando a gente tem uma planta transgênica que ela mesma produz o seu próprio inseticida é muito bom, porque se reduz a aplicação de pesticidas no meio ambiente”, afirma. “Mas uma das coisas que tem muito apelo e se está trabalhando muito é não apenas olhar do ponto de vista da produtividade, mas também da qualidade nutricional”, completa. “O consumidor está cada vez mais se preocupando com a qualidade nutricional das coisas que ingere e, nesse sentido, estamos trabalhando para aprimorá-la também.”
Além disso, ela explica a edição gênica, uma nova tecnologia ainda não implantada no mercado agroindustrial brasileiro, que consiste em editar genes já existentes em um organismo. “Essa planta não recebe nenhum pedaço de DNA além do que ela tinha, simplesmente é modificada alguma coisa desse texto do genoma. E, por isso, essas plantas não são consideradas transgênicas, portanto, não estão sujeitas às mesmas regulamentações que as transgênicas tradicionais.”
Quanto à polêmica em torno das consequências do uso de transgenia na produção de alimentos, Rossi afirma que não há impacto direto desse tipo de organismo, já que são realizados processos de verificação extremamente rígidos para evitar quaisquer reações ruins, as quais não foram ainda comprovadas cientificamente. “A transgenia é uma tecnologia. Com uma tecnologia, é possível fazer coisas maravilhosas e espantosas. Então, as técnicas não são boas ou ruins, o que são bons ou ruins são os produtos que se obtém a partir da aplicação da técnica”, aponta. “É por isso que existe uma instituição que vai avaliar a qualidade e as vantagens e desvantagens de cada organismo transgênico que uma empresa ou uma instituição pública brasileira pretende utilizar no mercado.”
Controle de pragas moderno
Além de serem utilizadas plantas transgênicas para que se diminua a incidência de pragas e doenças nas plantações, outra técnica bem disseminada é o controle biológico. Nele, a ideia é introduzir inimigos naturais dos causadores das doenças no ambiente da lavoura para, dessa forma, diminuir o uso de pesticidas. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “trata-se de um método de controle racional e sadio, que tem como objetivo final utilizar esses inimigos naturais que não deixam resíduos nos alimentos e são inofensivos ao meio ambiente e à saúde da população”.
Atualmente, são utilizados três tipos de controle: entomopatógenos, parasitoides e predadores. Os primeiros são caracterizados por causarem doenças em seus hospedeiros. Já os parasitoides se desenvolvem parasitariamente dentro das pragas. Os predadores, por sua vez, atacam as presas de maneira direta. Ainda podem ser divididos em duas classificações: microbiológicos, como vírus, bactérias e fungos, e macrobiológicos, que apresentam maiores dimensões.
Um exemplo de controle biológico é a utilização do fungo Metarhizium anisopliae para o controle das cigarrinhas, que afetam as plantações de cana-de-açúcar. O parasita entra no corpo do inseto e o coloniza, conseguindo, assim, uma fonte energética e matando o hospedeiro.
Solo saudável
Outro fator muito importante na agricultura é a qualidade do solo em que é realizado o plantio. Para isso, a adubação verde é outro método amplamente empregado. Ela consiste na reciclagem de nutrientes com a plantação de diferentes tipos de vegetais, especialmente leguminosas. Estas possuem bactérias fixadoras de nitrogênio em suas raízes, favorecendo a absorção desse nutriente essencial para a formação dos organismos. Esse tipo de procedimento se mostra vantajoso, pois promove a economia em fertilizantes nas produções de alimentos e pode gerar uma renda extra com a venda das leguminosas.
A rotação de culturas também é uma opção para recuperar os compostos nutritivos e melhorar a produtividade. Um aspecto importante disso é que a variação na produção, a qual pode ser benéfica para os produtores por não estarem suscetíveis as variações de estação e épocas específicas de colheita.
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