Por Pedro Graminha, da Antártica
Quatro pesquisadores do projeto Macroalgas Antárticas, coordenado pelo professor do Instituto de Química (IQ-USP), Pio Colepicolo, realizaram um acampamento na ilha de Snow, na Antártica. Foi a primeira experiência de acampamento do projeto que, desde 2009, realiza trabalhos no continente gelado.
Além dos trabalhos de coletas – realizados pelos pesquisadores embarcados no navio Almirante Maximiano – os pesquisadores realizaram novos e significativos estudos, principalmente na área de ecologia.
Segundo Marcella Araújo, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenadora do grupo acampado, a decisão de acampar veio a partir de coletas na ilha no ano passado. A abundância de algas chamou atenção para a necessidade de se realizar trabalhos de monitoramento e diversidade no local. “No navio não temos como fazer isso porque é preciso muito tempo. Estamos tentando trabalhar com a fisiologia das espécies, parâmetros fotossintéticos, e para isso precisamos de alguns equipamentos. Para poder fazer todos esses trabalhos seria apenas com acampamento”, explica.
No entanto, acampar na Antártica exige uma operação delicada, supervisionada por um alpinista contratado pela Marinha. Ao todo, a estrutura do acampamento conta com duas barracas coletivas, sendo uma delas cozinha e outra laboratório, além de barracas individuais. A partir dessa estrutura podem realizar os estudos nas praias da ilha, repletas de algas de variadas espécies.
Para os trabalhos de monitoramento realizam fotoquadrados, imagens tiradas em um pequeno quadrante conhecido como transectos. A partir disso, fotografam as algas na sequência de alguns metros, no leito do mar. Com a ajuda de um programa de computador, podem identificar a abundância e a diversidade de espécies no local.
“Fizemos mais de 600 imagens e agora vamos processá-las e analisar índices de diversidade, dominância, toda a parte de ecologia como um todo. Já está bem completo.”
“Se conseguíssemos fazer isso em todas as ilhas que passamos, teríamos dados de como as espécies estão nesse ambiente, podendo perceber um futuro impacto ou alteração no local, seja antropogênica ou não, como mudanças climáticas”, explica.
Dificuldades
Como em todas as outras operações, as maiores dificuldades da Antártica se dão pelo clima. Para os pesquisadores acampados não foi diferente: as mudanças de temperatura e rajadas de vento no continente são muito rápidas, inviabilizando qualquer trabalho. “As condições climáticas da Antártica já são difíceis, e tem momentos que não podemos trabalhar por causa de nevoeiro, neve, e não dá para sair de perto do acampamento”, conta Marcella.
Outra dificuldade se deu em virtude da alteração de planejamento dos navios, o que fez com que os pesquisadores fossem retirados antes do planejado. “Tinham várias análises que a gente queria fazer nesse trabalho só que fomos recolhidos mais cedo, mesmo assim, as coisas que conseguimos foram muito boas. Foi um enriquecimento muito grande para o grupo como um todo, não só para a gente que foi. Conhecemos várias regiões com bancos de algas, com biomassas que não vimos ainda, com quantidades significativas de algas que não conseguíamos antes, como a Himantothalus – espécie de alga que alcança tamanhos próximos a dez metros e é costumeiramente encontrada apenas no fundo do mar”, conta.
Ainda sobre trabalhos futuros, Marcella garante que vale a pena retornar a Snow e dar continuidade aos estudos iniciados. “Dos lugares que conheci, poucos tem os bancos descobertos como em Snow. O padrão de distribuição e as espécies são muito parecidos, o que é bom, pois estudando isso poderemos detectar padrões semelhantes, por satélite, em outros lugares. Além disso, indo para outro lugar perderíamos tempo com reconhecimento. Snow a gente já conhece e dá para conhecer mais ainda.”
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