Ir para as atividades de educação física é um problema na vida de muitos estudantes. A falta de práticas de ginástica, luta e jogos variados, conhecidas pelo conceito cultura corporal, contribui para a existência de uma parcela de jovens sem incentivo para aprender esportes nas escolas.
A pesquisadora da Faculdade de Educação da USP, Carolina Picchetti, afirma que hoje os professores reconhecem a importância de se promover a diversidade de experiências, entretanto muitos tratam a ideia de cultura corporal como uma mera expressão, sem inseri-la num contexto pedagógico. Ela explica que ainda hoje se perpetua o discurso de que a matéria funciona como um tempo livre para canalizar a energia das crianças ou discipliná-las. Esta realidade, na visão dela, contraria a Lei de Diretrizes e Bases da Educação que prevê aulas planejadas com base em diversas manifestações teóricas e em campo.
Picchetti conta que essa reflexão veio à tona em 1992, quando a obra Coletivo de Autores indicou caminhos para o exercício de jogos, ginástica, lutas, acrobacias e mímicas com o intuito de criar um projeto político pedagógico que destacasse a função social da educação física. “Os educadores deveriam contribuir para o projeto de formação humana, mas convivemos ainda com uma legislação que permite facultatividade nas aulas”, atesta. Por meio da lei nº 9.394/96, a disciplina não é obrigatória para pessoas com mais de trinta anos, em serviço militar, com filhos ou que têm uma jornada de trabalho igual ou superior a seis horas. “A regra situa a participação nas tarefas como exaustivas. O Poder Público esquece que educação física também envolve teorias e que alunos nestas situações podem participar de programações diferentes”, critica.
Além disso, para ela, o modo mais prático de segregar um aluno é restringir as manifestações às quatro modalidades mais tradicionais, como é de costume: futebol, vôlei, basquete e handbol. “Na medida em que o jovem não se interessa por esses jogos, eles ficam de fora”, conta.
A professora pondera, entretanto, que o problema não é apenas das escolas. A formação dos profissionais ainda reflete conservadorismos no ensino. De acordo com ela, o debate acadêmico sobre as mudanças e as culturas corporais enquanto aula passaram a se consolidar na literatura pedagógica apenas no final da década de 90. “É comum, ainda, o imaginário dos professores remontar às ideias do passado. Então, eu não ponho o problema na falta de vontade, mas, sim, na fraqueza do olhar pedagógico”, analisa.
Assim, Picchetti acredita que falta nas universidades pesquisas sobre didática para sensibilizar o profissional em formação. “Esse tipo de estudo contribuiria para uma visão técnica de como atuar diante das culturas corporais”, acredita. “Da mesma forma que é necessário entender o que se tem de específico nas artes plásticas e da música para repassá-los, é preciso ter abordagens mais aprofundadas para se orientar um jovem no mundo da dança, dos jogos, da luta e da ginástica. Isso não acontece com frequência nas escolas.”
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