Pesquisa analisa comportamento de patrimônio histórico construído em rocha

Métodos não-destrutivos e laboratoriais permitem a realização de um catálogo de informações sobre os níveis de degradação das rochas

Monumento às Bandeiras, na praça Armando de Salles Oliveira, é construído por uma das rochas analisadas. Imagem: Governo do Estado de São Paulo

As rochas estão sujeitas a intemperismos do ambiente. Por isso, uma pesquisa do Instituto de Geociências da USP (IGc) estudou o comportamento de algumas rochas presentes em patrimônios históricos brasileiros. Entre eles estão edifícios, monumentos e obras de arte que possuíam função estrutural e ainda hoje servem como rochas ornamentais. O objetivo da análise é avaliar o quanto o material é suscetível ao ambiente, já que não era costume passá-lo por uma caracterização tecnológica, mas usá-lo de acordo com a disponibilidade do meio.

Por se tratar de patrimônios tombados, não é possível analisar diretamente as obras. Foram usados, então, métodos não-destrutivos em rochas coletadas em pedreiras, juntamente a exames tradicionais em laboratório para realizar a caracterização das rochas, por meio da medição de densidade, porosidade e absorção de água. Entre os métodos não-destrutivos realizados estão a propagação de onda ultrassônica para medir a densidade das rochas e conhecer inclusive se há diferenças de características entre blocos de um mesmo monumento; a determinação da resistência superficial pelo martelo de rebote ou martelo de Schmidt, que determina a resistência superficial da rocha; e a medida de cor usando espectrofotometria, um equipamento que apresenta com precisão a cor de cada rocha e permite averiguar se há alteração de cor devido ao intemperismo.

Foram escolhidas duas cidades para a avaliação São Paulo e Rio de Janeiro e cinco tipos de rochas. O Granito Itaquera, o Granito Cinza Mauá e o Granito Preto Piracaia são os representantes de São Paulo, enquanto o Gnaisse Facoidal é proveniente do Rio de Janeiro. Já a quinta rocha analisada é o mármore Cachoeiro White, da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Alexander Silveira, responsável pelo estudo, justifica a escolha: “Embora [o mármore Cachoeiro White] não tenha sido muito utilizado no passado, muitos mármores estrangeiros vieram para o Brasil para ornamentar fachadas e monumentos e por falta de disponibilidade deles, optei por utilizar o Cachoeiro White”.

Lugares em que as rochas estudadas na pesquisa estão presentes. Imagem: Juliana Lima

Sobre o estudo, ele comenta: “As rochas são formadas em altas profundidades, geralmente com grandes pressões sobre elas. Quando elas estão expostas à atmosfera, não estão no seu ambiente ideal. Então, quando uma rocha está no seu sítio natural já está sofrendo alteração, seja na pedreira ou na beira do mar; só pelo fato de estar na superfície, já está passando por alterações. Mas a nossa preocupação quanto ao patrimônio histórico se relaciona às atmosferas urbanas.”

A intenção do trabalho vai além de analisar o comportamento das rochas. Ele define também quais métodos são mais eficazes para a avaliação de cada caso. Foram registrados dados pela primeira vez com esses métodos, elaborando, assim, um pequeno catálogo para que pesquisas futuras possam ter uma base comparativa.

Alexander explica que, no Brasil, esse tipo de estudo ainda é pouco realizado: “Essa preocupação de envolver também o geocientista na conservação de edificações e monumentos é crescente no Brasil, mas no mundo já é muito consolidada”. Isso se deve à necessidade de países da Europa, por exemplo, que possuem muitos monumentos, de se preservar esse patrimônio. “Nosso papel é de divulgação. Procurar mostrar que o geocientista também atua nessas áreas e também pode contribuir com esse tipo de atividades”, complementa.

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